Fernando Abreu*
Como previra na opinião publicada neste site em véspera das eleições, a Esquerda à esquerda do PS, foi “castigada” duramente com significativa perda de mandatos com o Bloco de Esquerda a ver o seu Grupo Parlamentar reduzido em dois terços, e o PC a sofrer nova redução de mandatos tornando a sua representação parlamentar a um nível em nada correspondente à influência que tem na sociedade portuguesa, predominantemente no sector sindical.
Diz-nos a história que os partidos políticos, tal como todos os tipos de Organizações sociais, não têm garantia de perpetuação. Basta recordar a actual debilidade dos partidos da rDemocracia Cristã (caso do CDS em Portugal), bem como do Partido Socialista em França, ou mais impressionante como, num ápice, os Partidos Comunistas de Espanha e de Itália se desmoronaram, e este com um historial extraordinário de luta anti-fascista.
É reconhecido que no centenário Partido Comunista português, não obstante a erosão eleitoral a nível autárquico e nacional, continua a manter capacidade de resistência e que não é mais esta perda de mandatos que vai enfraquecer a sua capacidade de luta. Já o Bloco de Esquerda não só pela sua juventude, mas também pela diversidade de Organizações que o constituem, com a estratégia adoptada, em parte coincidente com a do PCP, corre o sério risco de ter dificuldade em voltar a co
nseguir resultados eleitorais iguais ou semelhantes aos atingidos nas eleições que lhe permitiram deter um significativo Grupo Parlamentar, tanto mais que ao nível autárquico e sindical a sua influência é inexpressiva.
Porque para a existência de uma Esquerda Plural que impeça, no futuro, desvios à direita do PS, no qual, embora presentemente abafados, há reconhecidos defensores do Bloco Central, é preocupante, seja em termos dos tempos mais próximos como futuros, que face ao “tsumani” eleitoral nas reacções “a quente” dos “Porta Voz” do PC e do Bloco não tenham reconhecido os seus erros, e ambos culpabilizaram o PS pelo seu suicídio.
Ao culpabilizarem o PS pelos resultados obtidos, pareceram querer fazer-nos crer que o sucedido mais não foi que um ato irreflectido dos cidadãos, sugerindo que os eleitores são “pobres e mal agradecidos “ porque não votaram em quem lhes quer bem.
Tal análise, parece revelar que existe um desfasamento entre cúpulas e militantes e entre estes e os cidadãos nos seus
meios de trabalho e de vida. Será que, por força, de os militantes estarem a ouvir sempre as mesmas “palavras de ordem” em vez de serem “correias de transmissão da realidade” são “caixas de ressonância” dos dirigentes?
As vítimas da pobreza, do desemprego, do trabalho indigno, dos sem eira nem beira, na sua esmagadora maioria são abstencionistas e nada, ou muito pouco, é feito no sentido de contribuir para que se organizem e mobilizem. E este deveria ser um Projecto dos Partidos de Esquerda.
Lisboa, 2 de Fevereiro de 2022-02-02
*Fundador e Primeiro Coordenador Nacional da BASE-FUT