José Manuel Duarte*
Tinha regressado da guerra colonial no ano anterior e, em 1971, aceitei o desafio da missão de Dirigente Livre da J.O.C. por três anos.
Desde meados desse ano tive o privilégio de passar a representar a JOC no Centro de Cultura Operária. Fui encontrar no CCO extraordinários dirigentes animadores entre os quais Fernando Abreu, Maria Elisa Salreta, Palmira Lopes, Rosa Farinha com um percurso militante que vinha da JOC e da Liga Operária Católica.
Por causa do serviço militar obrigatório e guerra colonial (entre Julho de 1967 e Abril de 1970), além de todas as outras consequências, fiquei longe das acções e das lutas, também na clandestinidade, que os militantes da Acção Católica Operária e outros iam fazendo avançar no país…
Por isso, voltar à JOC e também participar no CCO foi um tempo de tomar consciência das sementes que germinavam no combate pelo fim do regime de Salazar e Caetano, de alargar horizontes e reforçar a corrente de formação e da acção militante dos Movimentos Operários.
A missão e o papel que CCO desenvolveu desde a sua criação em 1963, e após a renovação a partir de 1967, com a entrada da Maria Elisa Salreta para Secretária Geral e o Padre Jardim Gonçalves para Assistente, foi possível imprimir uma nova dinâmica, que está largamente registado no livro dos 30 Anos, e depois também no livro do 40º. Aniversário da BASE – FUT…sem esquecer as Edições Base cujos livros e outras publicações eram vendidas e passadas de mão na clandestinidade! Tudo isso foi recordado ao celebrarmos os 50 Anos da Organização.
Sendo um dos fundadores da Base – Frente Unitária de Trabalhadores, naquele Novembro de 1974, como Organização maioritariamente de inspiração cristã, quando agora evocamos os 50 Anos, e apesar das dificuldades actuais, só poderia partilhar do reconhecimento do imenso caminho percorrido ao serviço das grandes causas dos Trabalhadores e das ideias que animaram e continuam a animar com dedicação e esforço os membros da Base – FUT e também do Centro de Formação e Tempos Livres.
Neste meio século do após 25 de Abril quanto trabalho, quantos projectos, incluindo projectos em parceria com outras organizações ou movimentos, quanto empenhamento de animadores e militantes da Base-FUT! E poderíamos citar quantas centenas de acções de formação em fins de semana e em várias regiões do país sobre sindicalismo e formação de dirigentes sindicais, formação de animadores, sobre cooperativismo, formação cívica e política, Associativismo, formação básica em jornalismo!
Sou testemunha do quão importante foi essa formação, também para mim pessoalmente, em trabalhos de jornalismo, em processos de dinamização socio-cultural e especialmente quando, no final de 1974, liderei o processo das primeiras eleições livres dum sindicato de gente humilde – o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil do Distrito de Castelo Branco, do qual fui presidente da direcção desde Fevereiro de 1975 até meados de 1987.
Quantos livros, revistas sindicais, Cadernos de Cultura Operária e outras publicações das Edições Base também depois do 25 de Abril já em liberdade sem ameaça e perseguição da polícia política…
Quantos Plenários Nacionais sobre o papel da Base no meio da evolução política e das estratégias partidárias após o 25 de Abril!
Foram incontáveis os encontros e reuniões de análise e discernimento político no Norte, no Sul e no Centro do país!
E não cabe aqui descrever a ousadia da criação do Centro de Formação e Temos Livres das suas inúmeras realizações e actividades desenvolvidas…
Na celebração dos 50 Anos da Base – FUT esteve tudo isso presente nos testemunhos, em factos e acontecimentos relatados, na história contada e nas estórias que ficaram por contar…
Não é possível, naturalmente, traduzir em palavras escritas ou faladas, a vida da Base – FUT e do contributo que tem dado à causa dos Trabalhadores e das suas organizações, aos princípios da liberdade e da democracia, aos direitos e deveres da democracia participativa consagrados na Constituição da República Portuguesa de 1976.
A Base – FUT continua a ser um importante desafio para quantos se revêm nos seus princípios e no seu papel histórico, desde o Centro de Cultura Operária nos tempos da resistência e da clandestinidade… Sabemos que não existem Organizações perfeitas. E nem sempre soubemos ou fomos capazes de construir pontes em momentos (ou circunstâncias) em que as torrentes do rio agitavam ou ameaçavam as margens… O que contribuiu para se distanciarem alguns amigos e companheiros da caminhada e do combate de muitos anos!
Nesta evocação dos 50 Anos da Base – Frente Unitária de Trabalhadores, não podemos deixar de olhar para essa construção de pontes, reparando que aqui e além haverá alicerces que nem as torrentes do rio mais violentas teriam feito desaparecer dessas pontes que ficaram interrompidas…
O caminho faz-se caminhando/ O sonho comanda a vida/ E a união faz a força!
Covilhã, 2025
- Fundador e militante da BASE-FUT, sindicalista e Animador Cultural