Mensagem da economia de Francisco não foge aos problemas

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«Mas a mensagem da “Economia de Francisco de 21 de novembro de 2020” é bem diferente. Muito embora, e perdoem-me as expressões, não seja uma “pega de caras” e seja antes uma “pega de cernelha” é uma mensagem que não foge aos problemas do quotidiano. Não aprofunda nem nomeia as causas da opressão e exploração, mas apresenta postulados como metas, que a serem conseguidos, farão uma alteração ao sistema que produz as injustiças»escreve José Ricardo, antigo militante da JOC numa primeira impressão à Declaração de jovens empresários de todo o mundo num encontro, em Assis, sobre a Economia de Francisco no passado dia 21 de novembro.

 

José RIcardo*

“Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados” (Mt 5, 6)

O paradigma, ainda dominante na doutrina da igreja católica e não só, é considerar as ações dos homens como bons e maus. Os bons porque atingiram o estado de luz e os maus porque continuam nas trevas. Esta visão seria compreensível se já não estivesse provado que o ser humano é um ser social e que a genética pouco contribui para o comportamento de que cada individuo. Cada um de nós é fruto da cultura onde nasceu e cresceu. Mas como Bourdieu ensinou esta cultura incorporada pode sofrer mutação, fruto da nossa reflexão pessoal. Cada um e cada uma não tem de reproduzir a cultura que recebeu, se conseguir ver, julgar e agir.

Assim, esta bem-aventurança que transmite uma forte inquietação e desejo dos que não se conformam com a realidade existente, pode ser lida como o fez o papa Bento XVI que no seu livro Jesus de Nazaré (1ª parte) afirmou que esta inquietação “acorda o homem para algo maior e o leva a empreender um caminho interior” (pag.130)

Esta ainda é a mensagem dominante e que permite a homens como o Trump e o Bolsonaro de usarem a religião cristã como propaganda política de dominação. A teologia é um espaço fechado e todas as explicações da palavra de Jesus Cristo são metáforas espirituais que não se cruzam com a vida terrena.

Mas a mensagem da “Economia de Francisco de 21 de novembro de 2020” é bem diferente. Muito embora, e perdoem-me as expressões, não seja uma “pega de caras” e seja antes uma “pega de cernelha” é uma mensagem que não foge aos problemas do quotidiano. Não aprofunda nem nomeia as causas da opressão e exploração, mas apresenta postulados como metas, que a serem conseguidos, farão uma alteração ao sistema que produz as injustiças.

É uma mensagem que clama por justiça e aponta caminhos concretos dos quais realçamos:

  • A sustentabilidade ambiental “desacelerem a sua corridapara deixar a Terra respirar”;
  • o direito ao trabalho digno para todos;
  • sejam imediatamente abolidos os paraísos fiscaisno mundo inteiro;
  • sejam fundadasnovas instituições financeiras mundiais com um sentido democrático e inclusivo;
  • um comitê éticoindependente na governança das grandes empresas e bancos globalizados;
  • uma educação de qualidadepara cada menina e menino do mundo;
  • a conquista da paz e o fim das multinacionais da guerra.

E finalizam o pedido:

Pedimos tudo isso antes de tudo de nós mesmos e nos comprometemos a viver os melhores anos das nossas energias e inteligência para que a economia do Francisco seja cada vez mais sal e fermento da economia de todos.

Acredito nesta boa nova e que se muitos a quiserem ela chegará a concretizar-se. Sobretudo criar a consciência nos homens e mulheres que a motivação para a participação na construção dos bens essenciais à vida, não tem de ser o lucro e o enriquecimento individual, mas mais o sentido de comunidade, de economia do dom, economia da comunhão…

14/12/2020

  • Mestre em Ciências da Educação e Animador Social e Dirigente da BASE-FUT

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