Uma interessante investigação sobre uma das mais admiráveis greves da História Operária:A GREVE GERAL DE 1903 No Porto obra de Eduardo Cintra Torres.
«Nos últimos dias de Abril de 1903,provavelmente no sábado 25 de Abril,os operários da fábrica de tecidos de Júlio Pereira do Amaral,na Rua do Bonjardim,Bonfim,Porto,resolveram nomear uma comissão que fosse entender-se com o patrão.Consideravam-se prejudicados no preço da mão-de-obra.
O industrial despediu a comissão,o que levou os operários a cessar o trabalho.O despedimento dos comissionados foi a causa imediata dos acontecimentos posteriores.A greve espalhou-se a outras fábricas de tecelões e, mais tarde, a todos os sectores operários.A elaboração de um caderno reivindicativo, que sindicalistas moderados disseram estar preparando,esboroou-se.As forças repressivas reprimiram os grevistas à porta das fábricas, nas ruas, nas ilhas.Os operários grevistas responderam á pedrada e concertaram a coação sobre os recalcitrantes e fura-greves.
Seria,até aqui, uma greve normal, com as práticas habituais de operários e forças repressivas,mas o movimento social grevista, com uma organização esplêndida e adaptada à situação concreta, alterou o rumo dos acontecimentos.Garantiu o apoio da imprensa diária do Porto;ocupou o espaço público central da cidade,com multidões que espectacularizaram a sua miséria;adoptou a táctica da não-violência, que paralisou a ação repressiva do Estado;empenhou-se em negociações colectivas com os industriais de igual para igual;mobilizou a solidariedade moral e material dos cidadãos do Porto, do País e de outras classes profissionais de operários do Porto e arredores que aderiram à greve para pressionar os industriais da tecelagem a ceder, alargando-se a greve a dezenas de milhares de operários;abalou a vida quotidiana da cidade;finalmente conseguiu a vitória nas suas principais reivindicações.Foi a maior greve até então em Portugal, uma greve geral como nunca se tinha visto».(Introdução do livro).