Brandão Guedes*
Maioria plural de esquerda é possível?Sim, mas não é suficiente.A experiência de quase meio século de democracia diz-nos que para termos avanços significativos em termos sociais, culturais e económicos não é suficiente obter um eleitorado maioritáriamente de esquerda.São necessárias pelo menos duas condições fundamentais:
-A maioria eleitoral de esquerda deve materializar-se numa constante e coerente maioria parlamentar e eventualmente governamental;
-E essa maioria de esquerda exige uma base social de apoio dinâmica, bem informada e militante, capaz de sustentar e fazer equilibrar «as coisas» para o seu lado quando ocorrerem os «braços de ferro» com as forças de direita e de oposição,a maioria dos «media», as instituições internacionais e os chamados investidores.
A experiência da governação do Partido Socialista com o apoio parcelar do Bloco de Esquerda, Partido Comunista/PEV deve ser avaliada positivamente, sendo necessário extrair da mesma algumas conclusões.
Diria que a primeira é a de que passadas décadas do 25 de Abril foi possível um diálogo entre as esquerdas sobre políticas concretas que beneficiaram os trabalhadores e a generalidade dos cidadãos.Foi um passo significativo e positivo que teve impactos a nível interno e externo.
A segunda conclusão é a de que apesar da experiência positiva existem importantes divergências entre as esquerdas.Divergências sobre as políticas europeias, nomeadamente sobre o papel do euro no nosso desenvolvimento e divergências sobre o lugar do trabalho e dos trabalhadores na nossa sociedade, enfim, sobre o actual modelo de relações laborais e sobre a distribuição da riqueza entre capital e trabalho.
Perante esta situação de facto as esquerdas podem escolher dois caminhos.O primeiro é o de cada uma se entricheirar nas suas visões e prioridades; o segundo será dialogar, ver as divergências reais, contornáveis ou superáveis e isolar as que sejam de mais difícil resolução.
São dois caminhos opostos.O primeiro mantém as divergências e diferenças sem estender pontes, sem querer mudar as coisas e abrir o caminho às forçs de direita e extrema direita.O segundo pode abrir caminho a uma agenda mais progressista que mude para melhor a vida dos portugueses, que mobilize os trabalhadores que aglutine e galvanize o povo de esquerda.
Considerando o actual quadro internacional e as opções que se foram tomando decorrentes da nossa opção europeia a estratégia de uma mudança progressista tem que ser sábia e contar com um forte apoio popular.
*Dirigente da BASE-FUT