Iniciativas cooperativas e comunitárias na Serra dos Candeeiros

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No passado sábado, um grupo de ‘Amigos de Aprender` de Lisboa e de Alqueidão da Serra, foram  vivenciando gestos e saberes ancestrais, na companhia do rebanho de cabras e do pastor sabedor do seu ofício, passando um dia maravilhoso na Serra dos Candeeiros.

O Júlio (Cooperativa Terra Chã) fez um breve apontamento sobre as salinas, e abalámos, encosta acima, para conhecer ‘in loco’ a principal atividade da Cooperativa, o pastoreio de cabras sapadoras que limpam a vegetação e produzem leite para venda a uma queijaria. Desfez-se a ideia de cabras rebeldes… afinal paravam ao assobio do pastor ou do ladrar da cadela

A Cooperativa desenvolveu a ancestral tradição dos baldios, regulada por lei de 1997 e adendas.

São baldios os terrenos possuídos e geridos por comunidades locais. Para os efeitos da presente lei, comunidade local é o universo dos compartes…os moradores de uma ou mais freguesias ou parte delas que, segundo os usos e costumes, têm direito ao uso e fruição do baldio.”

Na encosta, junto ao estábulo  o pastor Raul e o Júlio, ajudaram a entender o ’trabalho’ das cabras, mais de duzentas, que iam comendo folhas e frutos de carrasco, sem sofreguidão, porque já tinham tomado o pequeno almoço de feno seco. Parando, ouvindo as explicações do Júlio e do Raul , pisávamos uma espécie de calçada aintiga, muito irregular, de pedra pontiaguda, por vezes solta. A temperatura agradável e a boa disposição, nossa nas conversas e do rebanho na comezaina, eram-nos de prazer imenso.

 

No cimo da serra, a carrinha da Cooperativa trouxe-nos um gostoso piquenique – belo queijo, chouriço, vnho, pão de ló, com aragem sadia, vento um pouco forte, e um ambiente de camaradagem  de grande satisfação, regressando na carrinha, para bem dos magoados pés.

De tarde, satisfizémos a curiosidade – como são as aldeias da serra. Da volta pelos locais e freguesias, muito instrutiva pelos comentários do guia, registámos três notas do muito que vimos e ouvimos: uma, montes de pedra solta a que chamam ‘maroiços’, espalhados por aqui e por ali. Tal e qual… Outra, os telhados de água  do parque dde merendas da Mendia . E a anta feita capela da igreja de Alcobertas  semelhante à de Pavia (perto de Mora, no Alentejo).

Após o jantar (na Cooperativa), bem cozinhado, saboroso, com uma delícia de sobremesas, participámos numa reunião com representantes de baldios organizados, tendo o Luís Ferreira, do Baldio do Vale Trave, fornecido preciosas informações e esclarecimentos.

E informados do furacão Leslie, pelo sim pelo não, resolvemos pernoitar em Rio Maior.

…Um sábado saudável e motivador, para conhecer uma velha relação que vem do neolítico entre pessoas e animais… e paisagem… Sentimos e vimos, com olhos de ver, a construção da paisagem, e veio-nos à memória Pedrogão, Figueiró e Castanheira de Pera, e a certeza de que tudo anda ligado: quando desconectamos, as repercussões produzem um movimento contínuo que não controlamos, que toma vida própria e nos leva para onde não quereríamos. A velha dicotomia cidade – campo agudiza-se e faz-nos perder o sentido de raiz, de pertença, de memória. O aparente controle e omnipresença do Homem é uma falsa e perigosa verdade que as forças da natureza nos encarregam de lembrar, amargamente…

Com guias fantásticos aprendemos muito sobre plantas e o solo, por entre mato e rochas. O pastor falou das suas cabras, dos usos e costumes e dos momentos agrestes que passa, com o seu fiel amigo a guardar os seus animais, por sinal muito bem tratados.

Assim, caminhando, descobrimos e praticamos o holismo a ciência do todo – um dos pilares da economia solidária que se vai implantando.

Agradecemos a toda a equipa que tão bem nos acompanhou. Havemos de voltar mais dias.

*Contributos de Adélia, Avelino, Jaime, Júlio, Maria Dias, Olegário, Rosa, São Ramos.
(Fotos de Olegário Paz) 18.10.2018

 

 

 

 

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