Américo Monteiro
Estou aqui em nome pessoal, pela ligação que temos na dinâmica sindical e pelo cargo que agora ocupo na LOC MTC nacional.
Em especial em nome desta migalha de Igreja que represento, quero deixar uma forte saudação de solidariedade e incentivo e o meu agradecimento pelo vosso empenho e a vossa fidelidade aos princípios desta organização que agora comemora o seu 45º Aniversário.
Está sempre presente nos trabalhadores a tentação de fugir para lugar seguro que pode ter muitos nomes: Individualismo, espiritualismos, alienações, o confinamento em mundos pequenos, que acabam por nos afastar das realidades de vida, nossa e dos outros.
Num mundo em que a indiferença é a nova doença desta época. Onde a precariedade, os horários de trabalho desregulados e os baixos salários são um problema sério para os trabalhadores e o seu empenhamento na vida social. Onde os operários e os seus direitos são cada vez mais ignorados e invisíveis. Onde as pessoas dos meios mais desfavorecidos, aqueles que provocam desconforto, que exigem entrega, atenção, tempo e dedicação, são tantas vezes descartáveis e invisíveis, até pela própria Igreja.
Precisamos analisar, escutar, não nos limitarmos à opinião de cada um, para descobrir a verdade que há nos demais, para enriquecer o nosso próprio discernimento mas também para discernir em comum.
É preciso termos muito claro de que lado estamos:
Se estamos do lado daqueles que semeiam ervas daninhas, ou daqueles que plantam árvores,
Se estamos do lado dos que levantam muros ou daqueles que constroem pontes.
Eu nunca fui da Base Fut mas, toda a minha vida militante é influenciada por nomes desta causa e por estes princípios do sindicalismo de Base.
Ainda muito jovem e desde sempre empenhado no movimento sindical, me lembro:
A Fernanda da Labruge. A São Barros e o Toni de Joane. O Custódio Oliveira. A Glória que ia de Gaia a Joane reunir connosco sindicalistas sobre a importância desse sindicalismo de base, autónomo e de massas.E depois as referências: O Júlio Ribeiro Porto, A Vitória Pinheiro, O Padre Jardim Gonçalves. O Fernando Abreu. Pode até algum destes nomes citados não ter sido membro da BASE-FUT, mas no meu imaginário e memórias, são referências nesta caminhada sindical e na minha formação, entre outras que seria muito extenso citar.
Isto para chegar ao João Lourenço, ao hoje homenageado. Devemos ternos cruzando antes, mas só o conheci na Alemanha, Um seminário internacional eu pela Pastoral Operária, ele pela Base Fut, creio eu e calhou dormirmos juntos. E falamos e falamos, às tantas mais que dormimos e ficamos próximos, somos amigos.
Ele é um dos culpados de eu ter aceitado esta aventura de ter vindo para estas coisas da CGTP-IN ao nível Nacional. Daqueles que me levaram a entrar nesta aventura, foi o que ficou mais por perto apesar de já não estar a dirigente desde essa altura.
O João já está em outro tempo. Para ele já estamos aí com carros sem condutor por todo o lado, já os combustíveis fósseis estão quase eliminados, as energias renováveis e alternativas estão a atingir a totalidade das necessidades e os consumidores são todos já pessoas a um nível de consciência muito alto.
O João reflete já ao nível daqueles jovens que querem tudo e depressa e ainda não escutaram o Papa Francisco na sua exortação aos jovens e a todo o Povo de Deus, que termina dizendo “e quando acharem que nós os mais velhos estamos a ficar para trás, tenham a paciência de esperar por nós “.
Aqui perspetivando um distanciamento cada vez maior entre gerações e a importância de não provocar descartáveis na sociedade, não deixar ninguém para trás.
O João diz-nos muitas vezes quando lhe pedimos para abreviar as suas intervenções que tem muita informação para nos dar. Pois meu caro camarada, na comunicação não conta só o emissor, tens que pensar no recetor. E se este só absorve em pequenas doses, tens que ser tu a assumir os tempos e as prioridades, senão corres o risco de ficar a falar sozinho.
Um obrigado ao João Lourenço por ser quem é e fazer parte das nossas vidas.
Um obrigado à Maria, sua esposa, por nos ajudar a ter um amigo assim.
Coimbra, 9 de Novembro de 2019-11-09
Américo Monteiro
Coordenador Nacional da LOC/MTC