Jornal Mapa- Olhando para a nova paisagem rural alentejana, como descreverias o discurso e as práticas sinuosas da classe patronal agrícola que ora acentua a sua dependência de mão-de -obra migrante, como no minuto seguinte se demite de responder sobre as suas condições de contratação?
Alberto Matos -Os novos latifundiários dos olivais, dos amendoais, das estufas, o latifúndio de regadio, e também o do sequeiro, esfregam as mãos com esta conversa da «via verde» que o governo anunciou para quem tiver comportamento ético- isto só mesmo para rir. Porque eles, na verdade e na esmagadora maioria, contratam para aí 20% da mão-de-obra que, de facto, exploram e utilizam. O resto dos trabalhadores são contratados através de máfias numa espécie de leilão- «quem é que me apanha 500 hectares ou 2000 hectares de azeitona? -«quem é que me faz um preço mais barato?» E dividem aquilo em lotes enquanto as máfias se matam e disputam pelo preço mais baixo. Um preço conseguido à custa da exploração indizível e invisível de imigrantes, muitos agora em situação completamente ilegal, sem poder refilar de maneira nenhuma.
Alguns contentores que foram construídos na zona de Odemira, dentro das propriedades, são subalugados às máfias; são as máfias que sabem quem está lá dentro, os proprietários não sabem nem querem saber. Eu diria mesmo que a «via verde» é responsabilidade social zero por parte desta classe patronal agrícola de que falas; podem saber o nome das plantas todas, o nome das variedades de azeitona ou de frutos vermelhos, mas não sabem o nome de um trabalhador.
(Alberto Matos, da Associação de Imigrantes SOLIM ao jornal MAPA de Abril-Junho de 2025)