Brandão Guedes*
As posições da CGTP e da UGT face ao 1º de Maio são demonstrativas de dois olhares que existem no Movimento Sindical Português não apenas sobre a situação social mas também sobre a pandemia.
A CGTP mais uma vez vai organizar as comemorações do Dia dos Trabalhadores na rua e com o dobro das pessoas enquanto que a UGT vai promover um debate online.De facto é uma questão de «adn sindical» de cada organização.A CGTP tem afirmado sempre a necessidade de, com as devidas cautelas, se manifestar nas ruas.A UGT pelo contrário cedo manifestou uma posição de confinamento e de não sair para a rua.Ambas as posições acabam por ser convenientes a cada uma das centrais sindicais.De facto, a UGT, sem grande expressão nas ruas ,com pouca militância e com um núcleo dirigente envelhecido,tem todo o interesse em não se afirmar nas ruas, passando a ideia para a opinião pública de grande responsabilidade perante os riscos da pandemia.
Se, porventura, esta posição da UGT teve a simpatia de muitos portugueses no início , ela hoje já não é tão importante pois entramos numa nova fase do desconfinamento e os próprios empresários querem desconfinar.Por outro lado a UGT quase desapareceu da cena pública estando embora presente nas instituições com pareceres, reuniões online e tomadas de posição na comunicação social.Esta Central não se vê nas lutas das empresas nem com reivindicações sectoriais.
CGTP nunca deixou a rua mas as bases estão enfraquecidas
A CGTP, pelo contrário, nunca deixou a rua embora com menor intensidade e quase de forma simbólica.Nunca deixou de realizar alguma ação nos locais de trabalho, incluindo algumas greves.Teve de início algumas reservas de certos sectores da opinião pública mas não é hoje alvo de críticas particulares.É assim coerente a sua proposta de comemoração do 1º de Maio.Embora com dificuldades a CGTP tem funcionado, nomeadamente reunindo os seus órgãos nacionais como o Conselho Nacional e a Comissão Executiva,alguns sindicatos têm realizado reuniões distritais e assembleias gerais e, em alguns casos, eleições de órgãos com voto por correspondencia e lista única.
No entanto, a pandemia está a fazer um grande desgaste na Central , em particular nas bases, nas empresas.A rede de delegados sindicais enfraqueceu e a ligação com os trabalhadores também.Após o último Congresso e com a direção recauchutada e eleição de nova secretária geral, Isabel Camarinha, foram-se avolumando as tensões nos órgãos nacionais onde são mais claras as opiniões das minorias sindicais que acusam a maioria comunista de não considerar as suas propostas e de existir menor democracia no funcionamento da Central .Hoje os consensos estão mais difíceis do que nos tempos de Carvalho da Silva e Arménio Carlos.
Parece que as novas gerações de comunistas que dirigem a Central não são tão sensíveis à pluralidade e ao respeito pelas expressões das minorias como foram alguns sindicalistas do passado que lutaram lado a lado com sindicalistas socialistas, católios e BASE-FUT e de outros sectores da esquerda.Entre os vários factores é notória a perda de influência sindical não apenas dos comunistas mas principalmente das chamadas minorias que históricamente convivem no interior da CGTP desde o Congresso de Todos os Sindicatos.
Ora, esta situação não será a mais adequada a este momento em que os Movimento sindical tem tantos desafios pla sua frente em que preservar e alargar a unidade é fundamental.
Centrais sindicais de costas voltadas
Para concluir podemos dizer que a situação sanitária, económica e social do nosso País criou um ambiente pouco favorável à ação sindical.A CGTP e UGT continuam de costas voltadas como dois castelos sem qualquer ponte entre elas, sem perspectivas de ação convergente e conjunta, sem diálogo como se o mundo não estivesse a mudar profundamente.Em ano de Presidência Portuguesa da UE nem uma iniciativa conjunta capaz de dar um sinal aos trabalhadores e ao poder político.A situação é cómoda para os partidos políticos que mais influência têm no Movimento Sindical?Talvez.Mas cuidado porque os trabalhadores estão a virar as costas aos sindicatos.
A BASE-FUT defende um sindicalismo autónomo, não obediente a estratégias partidárias ou outras.Um sindicalismo que sempre existiu na História do Movimento Sindical Português e que existe no coração de muitos trabalhadores e sindicalistas.Para nós chegou o momento de ultrapassar de forma crítica as agruras do passado, enfrentar as divergências naturais e construir as convergências urgentes e necessárias perante um capitalismo predador da natureza e dos trabalhadores e uma perigosa emergência de forças obscuras e fascistas.
Os empresários , acionistas e gestores das grandes empresas e os banqueiros, pese a necessária flexibilidade tática que demonstram, estão estratégicamente convergentes e unidos a nível nacional, europeu e mundial.Unidos para sacarem o máximo dos estados e seus contribuintes utilizando a chantagem do desemprego,unidos na reivindicação de investimento público no sector privado, unidos na concertação social para evitarem a revisão da legislação da Troika;unidos em manterem a estagnação salarial; unidos em Bruxelas para que os Direitos Sociais não passem a fronteira de declarações de boa vontade.
*Dirigente da BASE-FUT