António Carvalho*

Com alguma dificuldade de saúde acedo ao pedido da Direcção Base-F.U.T.-Norte dando um pequeno testemunho e respondendo às questões que me colocou, a saber:

Falar de um momento marcante da Base-F.U.T. em que estive presente?

Na verdade, o momento mais marcante que tenho na minha memória, foi quando vim de Paris, em Novembro de 1974, participar no 1º Plenário sobre a constituição oficial da Base-F.U.T.

Neste encontro debateu-se diversos temas importantes sobre a   situação da classe trabalhadora e dos problemas gerais que afectava o Povo do nosso país que tinha sido libertado de uma ditadura.

Foi um Encontro de vários dias de intensa reflexão, também, sobre os princípios e projectos de sonho e de esperança para a construção de uma Sociedade Nova; mas, 50 anos depois onde estamos?

Se a Base-F.U.T. teve influência na minha formação enquanto cidadão-trabalhador?

        Sim. Mas, em primeiro devo realçar o tempo de militância no Movimento da Juventude Operária Católica (JOC) onde tive a sorte de receber ensinamentos, de me valorizar, tomando, mais ou menos, consciência dos problemas que afligiam os trabalhadores e as famílias.

De facto, a Base-F.U.T. deu-me uma ajuda enorme nas análises a fazer a nível político/social sobre as verdadeiras causas da miséria, da exploração, da repressão, da falta de liberdade, da falta de paz, num país que se dizia cristão; tudo isto provocado por pessoas e organizações sem escrúpulos, sem humanismo. Também contribui e ajudou-me muito nos métodos da acção a desenvolver no campo cultural, sindical e político, em diálogo e respeito com os outros para se conquistar mais valores, não só materiais necessários para se sobreviver, mas sobretudo, os valores essenciais que dignificasse a pessoa humana no sentido de se engrandecer, de se valorizar pessoal e colectivamente; tendo sempre como lema a luta por mais justiça, mais liberdade, mais cultura, mais fraternidade e mais paz entre os povos.

Também nesta linha, tenho ainda a sublinhar, que eu e a minha esposa, enquanto emigrantes (França e Luxemburgo), durante 18 anos, enfrentamos grandes desafios com muitos sacrifícios, para estarmos ao lado dos emigrantes, sobretudo portugueses, prestando apoio social, como também na defesa dos seus direitos.

Sobre a mensagem que gostaria de dar para as gerações mais novas?

        A mensagem a dar não é fácil, nos tempos que vivemos, perante as máquinas da nova escravatura imposta pela globalização. Nesta situação é difícil dar receitas...

Devo dizer que muitos dos mais novos não acreditam nos políticos (e não só). A nossa sociedade de consumismo excessivo fez e faz de muitas pessoas mais dependentes, mais irreverentes, apesar de haver alguma evolução. Contudo, faço um apêlo aos mais novos:

Que assumam as suas responsabilidades fazendo melhor de que os mais velhos, corrigindo os erros e omissões que cometeram. Debaterem os problemas que se colocam a todos, nas diversas áreas, em união, em grupos ou organizações, agindo com as armas do diálogo do respeito buscando soluções de resposta às necessidades prementes, sobretudo, de todos aqueles que vivem, cada vez mais, em situação de pobreza material, social e cultural.

 NÃO À ARMA DO EGOISMO, NÃO À ARMA DO SALVE-SE QUEM PUDER.

Neste sentido, a Base é um pequeno movimento, um espaço, uma plataforma onde, em liberdade, se pode debater, aprofundar em análise situações gritantes no que concerne o ensino/educação, a saúde, os meios precários de sobrevivência de tanta gente, entre outras. Assim, em comunhão de princípios solidários ganhar mais alento e entusiamo para prosseguir a luta através de diversos meios e conquistar mais justiça social, mais liberdade de expressão, democracia participativa e mais paz.

Continuar a Sonhar por uma Sociedade Nova, a Esperança será sempre a última a morrer.

       

VIVA A BASE-F.U.T.  CORAGEM NA LUTA POR UM MUNDO MELHOR

 Com um abraço as melhores saudações para todos os camaradas.

  *     Militante dos Movimentos Operários Católicos  e da BASE-FUT