Católicos queriam criar sindicatos mas Salazar travou o processo

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As investigações mais recentes no domínio do catolicismo social português mostram que, no início da década de 30 do século passado, um grupo de padres e leigos quizeram erguer sindicatos na linha dos que já existiam em alguns países europeus, nomeadamente na Alemanha e Bélgica onde atingiram uma larga implantação.

A grande referência foi a Enciclica do Papa Leão XIII «Rerum Novarum»  que veio afirmar perante o liberalismo selvagem que os operários e respectivas famílias eram pessoas e tinham direitos e ainda tentar travar a expansão do socialismo e anarquismo nas organizações sindicais da época.

Assim, nos inícios dos anos 30  do século XX surge um Movimento Operário Católico com as primeiras experiências de constituição de sindicatos cristãos e com reivindicações sociais muito concretas procurando «resolver o problema operário».

Reivindicações importantes

Em 1931 é criada a União Social Católica em Lisboa que agrupa as associações católicas atingindo mais de 3000 membros e  apresentando as seguintes reivindicações:

-36 horas semanais de trabalho;

-Descanso ao Domingo;

– 15 dias de férias pagas;

-Proibição do trabalho a menores de 15 anos,

-Salário mínimo.

Em 1932, na Covilhã, surgem mesmo conflitos entre operários católicos e operários socialistas e anarquistas e que levaram à constituição de dois sindicatos católicos:lanifícios e construção.

Em 1933 deu-se um forte alargamento na constituição de novos sindicatos nomeadamente em Manteigas,Castelo Branco,Teixoso,Belmonte,Lamego,Évora,Gondomar-Porto,Braga e Tomar.

No programa destes sindicatos apareciam ainda outras reivindicações como:

-habitação confortável para os operários e famílias;

-Tempo para a família;

40 horas semanais de trabalho.

Os sindicatos católicos procuravam defender uma maior justiça dentro dos principios da doutrina social da igreja;repudiavam a luta de classes mas defendiam a organização sindical autónoma dos operários em sindicatos próprios.

Os Padres Boaventura de Almeida, Abel Varzim e Manuel Rocha, que estudaram na Universidade de Louvaina, estiveram na origem deste movimento que se inspirou em particular no sindicalismo belga.

Experiência abortada pela Ditadura

A experiência foi cedo abortada pela Ditadira de salazar que já tinha dado fortes golpes no sindicalismo livre, nomeadamente aproveitando a greve geral do 18 de janeiro de 1934, no âmbito da qual se deu a célebre ocupação da Marinha Grande pelos operários.A deportação, a prisão e a morte foi o triste destino dos melhores sindicalistas do Movimento Operário e Sindical.

Quanto aos católicos o regime foi trabalhando na sombra para, ao abrigo da Concordata, limitar a ação dos católicos sociais à espiritualidade e obras de caridade ou agirem dentro do sistema corporativo.Numa primeira fase os católicos aceitaram o desafio.A palavra de ordem era «cristianizar a sociedade» muito em voga na época! Porém, pouco a pouco perceberam que o sistema corporativo era apenas lindo na teoria e que na prática a balança pesava sempre para o lado mais forte, para os patrões!Toda a década de 40 foi percorrida pelas sucessivas críticas ao sistema corporativo ,de obrigatória conciliação de classes, que não funcionava, e levava a uma miséria cada vez maior dos trabalhadores!

O jornal «O TRABALHADOR » criado já em 1934 viria a ser durante quase década e meia o grande crítico e arauto das reivindicações dos trabalhadores católicos até ao seu silenciamento definitivo a mando da Ditadura em 1948.Mas este jornal merece um artigo especial pelo protagonismo que teve no catolicismo social português e que muitos ,mesmo dentro da Igreja Católica, procuraram silenciar.

Dessa corrente crítica de católicos ligados aos trabalhadores, e no quadro da Ação Católica Operária, viria a sair na década de sessenta o grupo dinamizador do Centro de Cultura Operária (CCO) , as Edições Base e ,mais tarde, com a liberdade, a BASE-FUT.

Fonte: REZOLA,I.Maria «O Sindicalismo Católico no Estado Novo-1931-1948»,Editorial Estampa,1999.A autora apresenta uma vasta bibliografia sobre o catolicismo social português.

Nota:Texto elaborado no âmbito dos 50 anos da BASE-FUT- 1974-2024

 

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