Avelino Pinto*
“…Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio este rumo esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?”
ZECA AFONSO (da canção Utopia)
…Há mais de 40 anos, uma amiga, encontrou-me, na Baixa, e disse:
– Sei que ides para a Covilhã, podias juntar-te ao grupo da BASE do Zé M. Duarte…
Pouco depois, já na cidade, num encontro da candidatura de Maria de Lourdes Pintassilgo à Presidência, animado pelo Cesário e Teresa Santa Clara, entrei na BASE. Em Lisboa, continuei no Centro de Cultura Operária, organizando com amigos – Brandão, Zé Vieira, Ana Vitória, Gracinda Tavares…- actividades, colóquios, debatendo cultura operária.
Lembro os Encontros de Cultura Operária (o primeiro no Sindicato dos Empregados de Escritório, com dezenas de participantes, que deixou marcas pela intervenção inovadora do Artur Lemos, Fernando Melro, Fernanda Patrício…). Seguiram-se outros, uma vez por ano, e colóquios vários como o da globalização (um debate público em que o Ulisses Garrido nos introduziu), preparados sempre por um grupo de amigos, com o apoio do grupo sindical, do grupo da educação escolar, do Maltinha, que juntava os mais novos.
Recordo, as Semanas de Férias Culturais (em Agosto e Setembro de 1984, as primeiras), estando em construção o Centro de Férias e Tempos Livres… Vivemos a aventura de uma semana em campo aberto, conhecendo a região, acampados com os filhos pequenos de 4, e 5 anos, que uma amiga acompanhava nas idas a Coimbra e ao rio Mondego, onde os esperava um caiaque (que um dia se virou, sem perigo, dada a pouca fundura de água).
E muitas outras actividades, como o encontro “Quem sou eu? que nos reunia para aprofundar o conhecimento pessoal, deixando-nos mais amigos e comprometidos.
Uma área – a informação sobre o movimento – assegurada sempre em equipa, publicou mensalmente o Traço de União e a Informação BASE, ao lado da Autonomia Sindical, que outro grupo preparava com muito empenho e aceitação, e as Edições BASE, para leitores meio clandestinos, com a documentação necessária e possível, naquele anos.
A BASE-FUT, porém, foi muito mais que isto: afirmou-se como rampa de lançamento de muitos que ali deram os primeiros passos de abertura aos problemas do mundo, e depois, em organizações sócio-políticas de toda a ordem, foram fermento na massa, com frutos reconhecidos de transformação da sociedade. E continuam!
Esses, porventura, nem nós conhecemos ou nos lembramos, são reais e duradoiros, e apontam a rota a prosseguir…Estou certo disso.
- Mestre em psicologia,formador e consultor,militante da BASE-FUT