Ainda as eleições europeias:desilusão,desinteresse e alienação!

 

João Paulo Branco*

Três ingredientes perfeitos para obter a maior taxa de abstenção numas eleições em Portugal.

Nas últimas eleições para o Parlamento Europeu no dia 26 de Maio, a abstenção mais uma vez destacou-se pela negativa em Portugal situando-se quase em 70%.

Já tínhamos sido alertados para o facto de que esta podia vir a ser uma realidade, no entanto pouco foi feito nos últimos anos para inverter esta tendência e mais do que esta tendência, esta postura inaceitável em democracia, pois quando nos demitimos de participar na decisões da nossa sociedade, estamos a pôr em perigo tudo o que ao longo dos últimos anos construímos e alguns lutaram para que fosse uma realidade.

Mas afinal de que estamos a falar, porque é que  os cidadãos europeus, e os portugueses em particula, se demitem de participar nas sociedades onde vivem, deixando assim que outros e muito poucos decidam sobre coisas tão importantes para a sua vida como o trabalho, a saúde, a educação, a sua liberdade?

Desilusão, sim, poderá ser uma das causas nalguns casos, pois haverá aqueles que já participaram, que já deram o seu contributo votando, mas que ano após ano somaram desilusões sobre os seus representantes, sobre os actores políticos e sociais, foram todas as promessas não cumpridas, foram tantos os logros que desistiram, dizendo “votar para quê”.

Desinteresse, será outro dos fenómenos a contribuir para a praga da abstenção. Neste caso estarão aqueles que pura e simplesmente não querem saber, “isso não me diz nada, não serve para nada, para quê perder tempo a ir votar” não se revêem nos instrumentos da democracia tal como a conhecemos.

Alienação, se a desilusão e o desinteresse são graves e perigosos, a alienação que vai atravessando as nossas sociedades é de facto algo a que devemos prestar muita atenção, pois, como algumas doenças, alastra sem se ver, sem doer.

Estas três causas a que chamei inicialmente ingredientes não são exclusivas de uma ou outra faixa etária, de uma ou outra classe social, são transversais na nossa sociedade e por isso dizem-nos respeito a todos, quer seja no nosso papel de cidadãos, de pais, de amigos, de dirigentes políticos e ou sociais, ou até de governantes e titulares de cargos de decisão.

Todos nós exercemos um destes papeis ou até vários, todos os dias, e por isso somos responsáveis por termos um país onde quase 70% da sua população em idade de votar se demite desse acto.

Enquanto organização cívica e politica, a BASE-FUT tem a obrigação de olhar para esta realidade e tentar contribuir tanto quanto esteja ao seu alcance para a contrariar dizendo todos os dias e das formas mais variadas que é preciso participar. É preciso participar porque se nos demitirmos desse exercício, se nos demitirmos dessa intervenção estamos a pôr em causa as nossas sociedades contemporâneas tal como as conhecemos. Sempre que nos demitamos de participar nas decisões e nas escolhas, estamos a deixar livre caminho para sociedades autoritárias e não inclusivas, exactamente o contrário daquilo porque muitos lutaram no nosso pais e na Europa da qual fazemos parte.

Organizações de trabalhadores como a nossa têm a obrigação de tudo fazer para defender as nossas democracias, tornando-as cada vez mais fortes, e estas serão tanto mais fortes quanto mais participadas forem. Sem participação não haverá democracia e o simples acto de votar poderá fazer toda a diferença.

*Presidente da BASE-FUT

 

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