Abrir caminho à economia solidária (2)

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Avelino Pinto*

“Está na hora do labirinto.” Todos se riram.

– “Alguém acredita que o Pigarro* tenha chegado a mudar e que possa ter encontrado o Novo Queijo?

– Algumas pessoas nunca mudam e pagam um preço bem alto por isso…Sentem-se com direito ao seu Queijo. Colocam-se no papel de vítimas e culpam os outros

quando o queijo lhes é retirado. Ficam mais doentes do que quem se liberta e muda.”

-Creio que a pergunta deverá ser – “ de que necessitamos e de que precisamos para mudarmos?”

* Pigarro – a pessoa que recusa e resiste à mudança, que, como a receia, o conduzirá a algo pior.

 “QUEM MEXEU NO MEU QUEIJO?”, de Spencer Johson

 

Esta fábula veio-me à lembrança face à urgência em lidar com as mudanças na vida de todos dias, especialmente na economia e no trabalho, e coloca a questão: como ter uns olhos compreensivos, da situação?

Continuo a apresentação do livro ECONOMIA SOCIAL E SOLIDÁRIA, em que intervieram Roque Amaro (professor, Lisboa), Constantino Alves (Setúbal) e Júlio Ricardo (Rio Maior), que “estão no terreno”, há muito anos. Por esse motivo, têm muito a dizer, pois reflectem e investigam problemas, na esteira da action-research de LEWIN, e desafiam-nos à prática da ECONOMIA SOCIAL E SOLIDÁRIA e a construir o futuro comum  

Nas intervenções, foi salientado que não basta ter informação, mas é necessário sim possuir um conhecimento compreensivo da situação. Esperamos pois outros contributos decisivos para distinguir a economia social da economia solidária, e encontrar as vias da sua sustentabilidade.

A sustentabilidade encontra-se ligada ao conceito-mãe do ambiente, fundamento duma sustentabilidade multidimensional, que, segundo Roque Amaro, se desdobra em oito factores (ver estudo sobre a Fundação Solidários, em que são mencionados). Ela evidencia as diferenças entre a economia social e economia solidária, e ajuda a não confundir a economia solidária com o fundamento democrático – um horizonte entre iguais.

Alguns aspectos requerem aprofundamento, como o conceito de valor partilhado, outros têm um lugar distintivo no séc XXI. É este o caso de a comunidade ser trazida para a luz do dia, tornando-se a economia social e solidária cada vez mais a economia da comunidade, assente no valor da reciprocidade.

A comunidade de solidariedade respeita a perspectiva de filantropia, situa-se, porém, mais adiante, enquanto envolve as comunidades locais, o Estado e as Misericórdias. É um processo de governança, de propulsionar a acção de todos os actores, todos os dias. Por outras palavras, o regresso à comunidade é o regresso dos comuns. (Um exemplo actual é o dos grupos comunitários que se têm desenvolvido nos bairros de Lisboa).

Outro conceito comentado – a liderança em projectos colectivos e solidários – requer uma investigação continuada, inserida na história das organizações  que nos ocupam. Neste mesmo sentido se encontram as acções colectivas que enfrentam hoje uma nova reconfiguração, mostrando-se algumas delas, desde já, uma aproximação à economia solidária, como embriões da mesma.

Refira-se uma nota relevante. Nas centenas de páginas escritas, apenas um trabalho foi produzido por quem colocou a mão da massa e também escavou nas amálgamas que fazem o desenvolvimento (ou que o contrariam!) Ora, a investigação participativa implica as pessoas que são os atores e os investigadores, colocando-os na horizontalidade e puxando os atores para a reflexão sobre os processos em que participam.
Um exemplo ilustra a questão. Numa aula de investigação educacional onde se debatia uma tese de doutoramento sobre o projeto em escolas rurais, um professor ficou muito aborrecido, por um animador do processo sair dessa condição para fazer a sua tese de doutoramento sobre o próprio projeto. A atitude, era grave por vir de quem, implicado na reflexão-ação, pretendeu sair da sua condição de igual para se elevar e olhar de fora…

Amigo leitor, vale a pena confrontar a experiência de vida com estas reflexões, que espero continuar com a apresentação do estudo sobre a FUNDAÇÃO SOLIDÁRIOS (1985 – 2014) que, possivelmente, muitos conhecem.

Dezembro, 2022

*Mestre em Psicologia ,Formador e Animador Social

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