José Ricardo*
No dia 25 de Abril acordei com a notícia do Golpe de Estado. Peguei o autocarro na Póvoa de Stº Adrião e desloquei-me para a minha unidade em Lisboa.
Não estava surpreendido porque, no nosso grupo de militantes militares, éramos informados do que se estava a conspirar. Dessa época recordo uma conclusão a que chegáramos. Não sabíamos como seria a seguir ao golpe para os trabalhadores portugueses, mas uma coisa era certa: pior não seria. Daí a nossa singela decisão: é preciso abrir um buraco nesta muralha de opressão e depois se verá. Como só tínhamos dois camaradas em postos com capacidade militar, seria a nossa participação singela, simples mas convicta de estarmos a favor da libertação dos trabalhadores.
Na minha repartição da Direção do Serviço de Intendência não havia coronéis nem o brigadeiro. Apenas alguns soldados e civis. Informei o meu pessoal de que ia sair e ver o que se passava e eles que fizessem o que entendessem.
Desfardei-me e dirigi-me à rua das Escolas Gerais onde funcionava a direção nacional da JOC. Ali chegado combinámos ir ver o que se passava e, com a Augusta e o Zé Brás, não sei se também com a Encarnação, lá fomos ao Terreiro do Passo e procurámos a coluna da Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Era aí que estaria o nosso camarada José Afonso, que foi dirigente livre da JOC.
Encontrámo-lo a cercar o Quartel do Carmo, comandando a sua viatura blindada e aí assistimos ao tiroteio. Desse momento recordo ter pedido aos camaradas que se acoitassem atrás de um edifício porque se houvesse resposta da GNR iria ser uma chacina de civis.
Foram horas intermináveis até à saída da chaimite que levou o Marcelo Caetano. Aí sim! A convicção que a vitória era certa.
Uma ideia tenho como segura: só houve uma revolução porque o povo saiu à rua.
*Mestre em Ciências da Educação,Membro da CAT da BASE-FUT e Animador Social