Isabel Roque*
Em tempos de capitalismo neoliberal, onde a precariedade e a flexibilidade laboral extremas se tornaram apanágios da condição laboral da maioria dos Portugueses, torna-se cada vez mais urgente celebrar o Dia do Trabalhador. Numa economia de capitalismo digital plataformizado, os trabalhadores encontram-se num estado de regressão, não apenas relativamente aos seus direitos laborais mais básicos, mas, sobretudo direitos humanos.
Os avanços tecnológicos impactam as novas configurações de trabalho, revelando a dicotomia entre o aumento da capacidade produtiva das empresas e a exploração e desproteção dos trabalhadores à escala global. As multinacionais tendem a perpetuar o discurso potenciado pelas lógicas de externalização e subcontratação, apelidando os seus trabalhadores de colaboradores, ou seja, uma massa indeterminada e despersonalizada de trabalhadores/as geograficamente dispersos e disponíveis, sobretudo a partir de plataformas digitais, criando redes de produção e serviços. Os trabalhadores/as não podem ser considerados como mera mão-de-obra descartável, desprovida de direitos laborais e direitos de representação e/ou voz coletiva.
Todavia, há que não esquecer que o trabalho é realizado não apenas em formato digital, mas manual e cada vez mais informal, desigual, desregulado e individualizado, sobretudo através da situação do (falso) trabalhador independente, com a aplicação de contratos a termo que se renovam num regime diário, semanal ou mensal, ou inclusivamente na ausência de um vínculo laboral legal e com vãs promessas de um contrato num futuro breve, funcionando na prática como uma mera lógica de assédio moral para extrair do trabalhador a maximização da sua produção.
Num cenário de crise climática, laboral e militar, unamo-nos em prol de uma sociedade mais justa e igualitária que valorize a condição de trabalhador e não de colaborador e que não o relegue para o papel de um mero instrumento de trabalho, descartável e subserviente das grandes multinacionais e de um governo que pretende aplicar novamente um cenário de austeridade. Neste dia 1 de maio, sejamos ousados e reivindiquemos os direitos do 25 de abril para a classe trabalhadora Portuguesa.
* Socióloga e Ativista Social