Jorge Santos*
Para além dos Grupos da Base, do 2º e 3ºcapitulos havia os grupos na Base, ou seja, os grupos externos que se encontravam e reuniam na sede Base. Entre os direitos e liberdades do 25 de abril, um dos que ficou consignado na constituição foi o direito e liberdade de reunião, mas esse direito só era materializável se os cidadãos tivessem espaços para se reunir. É consciente desse direito e dessa realidade que a BASE-FUT, começou de muito cedo a partilhar o seu espaço sede com outros grupos e organizações. O primeiro foi talvez a equipa do Jornal Libertar, um grupo de Cristãos, militantes, de esquerda como os Irmãos Moita, Luísa Teotónio Pereira, José Pires,Matias etc., reuniam-se semanalmente numa sala da cave da Base, para tratarem da edição de um jornal mensal de inspiração católica que se chamava “Libertar”.
Logo a seguir aparecem uns jovens, muito, muito novinhos, uns dez com idades entre os 11 e o 19 anos por aí que se dizem ser do Comité Antinuclear de Lisboa, estão preocupados sobre os perigos da opção da energia Nuclear no Mundo, na Europa e em Portugal, (estava muito presente uma ideia peregrina de fazer uma Central Nuclear em Ferrel) querem intervir sobre isso e pedem à Base que lhes empreste uma sala para se encontrarem. Lá ficaram. Mais tarde vêm pedir se a ALOOC – Associação Livre de Objetores e Objetoras de Consciência, pode ficar a partilhar as instalações com eles… era um entra e sai só para aquela sala.
Depois veio a “Batalha”. O último bastião do anarco-sindicalismo em Portugal foi o centenário jornal “A Batalha”. Emidio Santana (que tentou matar Salazar) e outros velhos lutadores anarquistas e do anarco-sindicalismo português, tinham ficado sem sede e não tinham meios para alugar um espaço. Para eles bastava se encontrarem uns com os outros na sala de espera do rés-do-chão. Ora por ali passavam os membros dos outros grupos os “velhos anarquistas” eram muito afáveis e bons conversadores, estabeleciam-se ali vivas e animadas tertúlias de debate sobre os temas mais diversos…
O Mandrágora, era um grupo de teatro Surrealista, liderado por Manuel Almeida e Silva, também ali pediu e teve sala para ensaiar algumas das suas peças de teatro.
Nuno Artur Silva (atualmente das Produções Fictícias), veio depois a desvincular-se do Mandrágora, criando outro grupo de teatro, chegando aqui a ensaiar os dois grupos.
Movimento da Escola Moderna, este importante movimento pedagógico também teve guarida na BASE-FUT, quer através da cedência esporádica de sala para reunirem quer na impressão de várias publicações nas nossas oficinas gráficas.
A BASE-FUT como garante da liberdade de reunião
Para além destes grupos fixos, a fama da BASE-FUT, como organização acolhedora e de garante à liberdade de reunião já se tinha propagado e todas as semanas recebíamos novos pedidos, para cedências pontuais, ou continuas.
Para pagamento, tínhamos uma caixinha que ficava na sala e quem queria deixava um contributo para a limpeza
Lembro dos Trovante quando lhes bateram com a porta no PCP, e ficaram sem espaço para ensaiar. Assim como a Teté antes de conseguir o que é hoje o espaço do Chapitô. Para ambos já não tínhamos hipóteses. Isto porque já tínhamos a ERA NOVA, que só por si trouxe um mundo novo e merece um capítulo.
*Jorge Henriques Santos foi operário, dirigente da BASE-FUT e é hoje jornalista e animador Cultural.