Américo Monteiro Oliveira*
Dizem entendidos que, quando eclode uma guerra ou se prolonga imprevisivelmente e autênticos genocídios que bradam aos céus se desenrolam diante dos nossos olhos e a economia mundial não se ressente ou se adapta a esses tempos, a sociedade está tramada.
Quer isto dizer que o poder económico não se vai mexer para encontrar soluções, pois estes não lhes causam problemas, leva até muitos a capitalizar ainda mais, e as restantes instituições vão ter mais dificuldades por falta de meios para levar à resolução dos conflitos.
Perante estas realidades, também as pessoas e os meios de informação, deixam de olhar com olhos de ver para as realidades mais próximas e que afetam mais de perto as pessoas.
No mundo do trabalho vivesse uma realidade dual. Por um lado temos um certo número de profissionais cujos rendimentos satisfazem e permitem um tipo de vida boa e com acesso ao que é essencial para a vida, entretanto, por outro lado, temos nas profissões mais comuns e tradicionais, os baixos salários, a insatisfação dos trabalhadores, as dificuldades do custo de vida e de acesso à habitação, a mão-de-obra intensiva e muito mal paga, etc.
Focados na taxa de desemprego que se vai mostrando baixa, não vemos que têm aumentado os despedimentos coletivos, em especial na indústria transformadora e no comércio, que os trabalhadores em lay-off triplicaram, alguns a trabalhar em horários reduzidos e a maioria tem os contratos suspensos.
O trabalho continua a ser muito desvalorizado. Aqueles e aquelas que agora perdem o seu emprego com vinte, trinta ou mais anos na mesma profissão, são os que dificilmente vão conseguir um novo emprego que se adapte aos seus conhecimentos e aptidões. Passam assim para reformas antecipadas ou muito penalizadas porque não encontram outras soluções de emprego. Que futuro os espera?
Depois não venham dizer que estes trabalhadores não se prepararam para estes desafios de futuro. Não, a sociedade é que não se preparou para corresponder a estes trabalhadores que gastaram uma vida a trabalhar e a produzir, ao serviço do seu país e ás necessidades dos seus.
É aqui que entra aquele apelo. Procura organizar-te com outros. Torna-te cidadão ativo. A luta lá fora espera por nós. (loc@sapo.pt)
*Coordenador Nacional da LOC/MTC e sindicalista
NOTA: Este artigo foi inicialmente publicado como Editorial no nº 673 do «Voz do Trabalho» e agora republicado com autorização do autor.