Ramiro Vilar*
Há soldados armados, Amados ou não, Quase todos perdidos, De armas na mão, Nos quartéis lhes ensinam,
Uma antiga lição, De morrer pela pátria, E viver sem razão. (Geraldo Vandré – Hino estudantil de resistência á ditadura militar Brasileira)
O 25 de abril e 1974 abriram as portas da liberdade. Passados 50 anos há quem queira, a toda a força voltar a 24 de abril de 1974. Uma dessas conquistas foi pôr fim á guerra colonial e o direito a recusar o serviço militar obrigatório. Não por medo, por cobardia, por falta de sentido patriótico. Mas por coragem de dizer não, por firme convicção de que a melhor defesa da (s) pátria (s) nunca foram nem serão as armas a repressão ou a violência. Derrubaram-se muros, abriram-se as fronteiras, juntaram-se os povos, mas eis que isto não é favorável aos senhores da guerra nem à indústria armamentista, e eis que rapidamente se erguem muros, fecham-se as fronteiras e exacerba-se o racismo e xenofobia. Militariza-se a política, a cultura, a economia, a comunicação social.
Nas guerras, não há vencedores só há vencidos
Não quero ser “educado” para ver no outro um inimigo a matar. Recuso essa educação para a “cidadania” como opinam os defensores do serviço militar obrigatório. A melhor defesa dos povos não é o investimento (fala-se em 2%do PIB) nas forças militares. A melhor defesa dos povos é o acesso à saúde, à educação, à cultura, ao trabalho digno com salário justo, à habitação. Se passar por aqui o investimento acabarão os principais focos de conflito que existem no mundo. Quanto custam os equipamentos militares? Quanto custa “formar” um jovem para matar? Quantos cientistas estão ao serviço da máquina de matar? E se esse dinheiro fosse aplicado, ao serviço do desenvolvimento, como: hospitais, habitação, sustentabilidade ambiental, irradicação da fome e da pobreza! Nas guerras não há vencedores, só há vencidos. Nas guerras todos perdemos.
Destruição de milhares e milhares de vidas
Tanto esforço para produzir e fazer chegar à frente da guerra mais e mais armamento, tantas reuniões para apoiar a guerra. Qual o resultado? Destruição de milhares e milhares de vidas – só em gaza fala-se em cerca de 50 mil mortos do lado Palestiniano, cerca de 15 crianças e 700 soldados Israelitas -, destruição patrimonial, ambiental. Para quando o esforço de lutar pela diplomacia, pelo diálogo, pelo confronto de ideias, pela aproximação dos povos, pela solidariedade, pela justiça. Para quando uma oportunidade para a paz? Para quando deixarmos de cantar “às armas, às armas”… e passarmos a cantar “em cada esquina um amigo, em cada rosto igualdade”? Não reconheço a ninguém o direito de me obrigar a seguir esse caminho. A retirar-me um ano da minha vida. A adiar os meus sonhos e projetos.
Se queres a paz, prepara-te para a paz
É urgente a educação para a paz. “A arma mais poderosa e mais barata que temos ao nosso alcance é a solidariedade” (D. Óscar Romero) Se todos os povos tiverem a sua pátria e o seu passaporte, a sua cultura respeitada e aceite, acesso igual a todos os bens, nunca se revoltarão contra outros. “Uma criança dizia, dizia, quando for grande não vou combater. Como ela, somos livres, somos livres de dizer” Voltar ao serviço militar obrigatório é fechar as portas que abril abriu. É não acreditar na humanidade! É não acreditar na força do amor! Gandhi, sem nunca ter disparado um só tiro, sem nunca ter empenhado qualquer arma expulsou da India o poderoso exército Britânico. Foi possível? Claro. Não conseguimos aprender com este exemplo? Se queres a paz, prepara-te para a paz. “Amai os vossos inimigos” (Jesus Cristo)
* Militante da LOC/MTC Porto
Nota: Artigo inicialmente publicado no Voz do Trabalho nº 671 de maio/junho de 2024, da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos.