Brandão Guedes*
Nos últimos dois anos e apesar de passarmos por uma terrível pandemia, e agora por uma guerra,não se vislumbram ações significativas de convergência/diálogo sindical entre as duas maiores organizações sindicais portuguesas.
Tanto no campo da CGTP como da UGT o que se ouve é um silêncio ensurdecedor ou um ou outro remoque ou diatribe, muito mais até no campo da segunda do que na primeira.
No último congresso da UGT, porém ouviu-se um corajoso apelo ao diálogo e convergência de ação sindical por parte de Fernando Gomes que estava a representar a corrente socialista da CGTP naquele congresso.Julgo que em ambos os campos o apelo caíu em saco roto.
No entanto, é uma tomada de posição que julgo ter eco em centenas de sindicalistas que estão dispostos nos locais de trabalho a convergir cada vez mais na defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores.Só que por razões estratégicas diferentes os partidos com influência sindical não fomentam essa convergência.Objectivamente quem perde são os trabalhadores portugueses,a maioria dos quais nem militante é de qualquer partido.Os banqueiros e os acionistas dos grandes grupos económicos podem dormir descansados.
Se com Arménio Carlos a política era ignorar a UGT sem recusar uma ou outra ação em conjunto, organizada por sindicatos filiados ou afectos,com Isabel Camarinha esta política endureceu um pouco mais.Por seu lado, o ex-secretário geral da UGT, Carlos Silva, não desperdiçou nenhuma oportunidade para dar uma «bicada» na CGTP.Vamos ver a orientação do Mário Mourão, o novo secretário geral recentemente eleito.
Chegados aqui podemos concluir que nem a pandemia,nem os efeitos nefastos de uma guerra, nem as condições difíceis em que actualmente se movem os sindicatos no quadro de uma globalização injusta conduzem a curto prazo à superação das fracturas históricas do movimento sindical português.O que muitos trabalhadores se questionam é o que será preciso mais para que vejamos uma mudança desta situação.
Sim,porque são muitos os trabalhadores que já nada esperam do movimento sindical nesta matéria, apesar de ainda se gritar nas manifestações «Unidade Sindical!».Mas são também muitos os que esperam uma mais forte convergência de ação para defender valores e direitos essenciais que são a base do trabalho digno e de uma sociedade democrática e que o capitalismo actual já demonstrou não estar disposto a respeitar na sua essencia.
O capitalismo das multinacionais ,da Amazon, da Tesla e das grandes plataformas digitais trabalham para um regresso ao passado mascarado de futuro, onde largas camadas de trabalhadores atomizados, sem organização,sejam os novos escravos de uma sociedade onde impera a desigualdade, o trabalho á hora ou á peça, por encomenda e sem qualquer regulação.
Os dirigentes da UGT e da CGTP têm uma pesada responsabilidade na hora actual que é irem ao encontro dos anseios de muitos trabalhadores que ainda estão nos sindicatos.
Apesar da história, é um facto que a UGT nasceu contra a CGTP,apesar da concorrência sindical no terreno,com atropelos vários, nomeadamente na negociação colectiva, apesar do sectarismo existente nos dois campos, o sindicalismo português tem que se articular melhor no futuro promovendo plataformas de entendimento para as lutas que se avizinham e para as quais somos todos necessários.Assim não vamos lá!
Não há muitas escolhas neste capítulo.Ou o sindicalismo português supera as divergências e luta de forma cada vez mais unida e eficaz, proporcionando melhores condições de trabalho e de vida a quem trabalha, ou os trabalhadores ainda sindicalizados vão abandonando os sindicatos ou nem neles se filiam, no caso dos mais jovens.
*Dirigente da BASE-FUT