Padre Mário de Oliveira:«viver sem deuses nem chefes»

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Carolina Fonseca*

O Mário de Oliveira conheci-o em 1969 quando foi paroquiar Macieira de Lixa, donde sou natural. Tinha os meus 15 anos. Desde cedo percebi que era diferente, alegre e  interventivo. Empenhado em tudo o que dizia respeito à humanidade. Iniciei-me num grupo de jovens onde muito aprendi com ele.

Da sua pequena experiência como capelão militar falava-nos que foi aí, na Guiné que se converteu para uma nova forma de estar em Igreja, que o fez renascer e onde compreendeu o apelo para como deveria ser a sua intervenção no mundo, rejeitando todas as atrocidades de uma guerra injusta. Depressa a igreja o castiga, considerando-o um “padre irrecuperável”.

(Menos de cinco meses depois, em março 1968, é “expulso de capelão militar, por ter ousado pregar, nas Missas, o direito dos povos colonizados à autonomia e independência”, e mandado regressar à sua diocese, sendo “rotulado pelo Bispo castrense de então, D. António dos Reis Rodrigues, como padre irrecuperável “;  (ver Tabanca Grande).

Vivenciei a sua primeira prisão, (abri a porta à GNR que o foi deter).

Mais tarde, em vivência comunitária, na Comunidade de Base Pe. Maximino, onde estivemos muitos anos, celebramos o nosso casamento, considerado por esta Igreja Católica “Írrito e Nulo” – anexo nota que guardei da altura, uma de muitas que foram títulos de jornais e revistas.

A Igreja católica, muito clerical e cheia de regras e ritos não aceita a diferença e rejeita novas formas de se ser cristão, e de ser questionada. Achou provavelmente que seria apenas uma ousadia rebelde de juventude e uma provocação a ela própria. E com isso o Mário sofreu o afastamento definitivo dos Altares

Com o Mário aprendemos, tal como muitos que podemos a ler, escutar e interpretar o Evangelho à luz do nosso tempo e da vida, e que tudo isto não se faz somente em templos, mas em espaços de comunhão, sejam de que tipo for.

Muita gente despertou e fez caminho em igreja com ele e noutras experiências de vivência cristã. “Viver sem deuses nem chefes”. Será sempre uma referência e uma voz que vai permanecer presente em muitos cristãos. Deixa para quem o quiser conhecer melhor um grande legado escrito ao longo dos anos de vida eclesiástica.

*Dirigente da BASE-FUT

 

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