Os beneficiários do RSI e os fascismos

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José Ricardo*

Quem pretender falar com seriedade neste assunto tem muita literatura e investigações bem fundamentadas. Em “Escassos Caminhos”, Eduardo Vitor Rodrigues, atual presidente da Câmara Municipal de Gaia, procura demonstrar as causas da permanência dos beneficiários neste programa de apoio social e do insucesso dos contratos de inserção. Este estudo apresentou três razões principais para a imobilização dos beneficiários do rendimento social de inserção (RSI): um grupo de pessoas que pela sua idade ou doença não poderiam trabalhar e obter outro rendimento; um grupo de pessoas com handicaps de diversa ordem, habilitacional, relacional e outras situações que os desajustava do mercado de trabalho já de si exigente e escasso; a abordagem ineficiente  e desajustada institucional operacionalizada pelas equipas e condicionada pelo estado.

O apoio popular às acusações de abuso propaladas por políticos é crítico e carece de uma resposta política, educacional e cívica. Estes boatos fazem parte da agenda da extrema direita para captar simpatia para o seu discurso nas classes trabalhadores. Os políticos, os abusadores do RSI, os corruptos sem nome, são metidos dentro do mesmo caldeirão a abater.

Jordi Estivil, no seu trabalho “A POLÍTICA SOCIAL NOS FASCISMOS – A EUROPA NAS TREVAS” diz-nos que “em geral, os populismos partem de uma visão dicotómica do mundo. Costumam simplificar a sua análise através de uma oposição entre os de cima e os de baixo, entre as elites corruptas, moralmente indesejáveis, economicamente exploradoras e politicamente manipuladoras, e o povo, a quem atribuem todas as virtudes.

Com esta mensagem, repetida à exaustão, procuram transportar a realidade social para uma ficção em que as classes sociais se evaporam e emerge uma sociedade de bons e maus. “Definido desta forma, o povo ultrapassa a identidade trabalhadora e assalariada, e a luta deixa de ser entre classes sociais. O antagonismo transfere-se para um novo espaço.”

Outro traço dos populismos que ainda não se tem manifestado muito em Portugal, é contrapor à globalização económica um nacionalismo agressivo. “Os populismos tendem por isso a propor medidas protecionistas na perspetiva de um jacobinismo económico.”

Por fim, outras características dos populismos atuais e que se observa claramente em Portugal e que se assemelham aos fascismos anteriores “são a exaltação dos seus líderes e a utilização das emoções na retórica política”.

A crítica que os vários candidatos têm dirigido ao arremedo de programa político do André Aventura, de poucas páginas em A4, é que são afirmações, acusações, mistificações e outras aldrabices, sem qualquer base de veracidade. “Raramente os seus programas políticos são precisos, antes permitindo um alto grau de oportunismo e adaptação consoante estão mais ou menos longe dos mecanismos de poder.”

Por tudo isto, devemos deixar os problemas do RSI para as equipas que desenvolvem o trabalho social diariamente e SIM, estar ALERTA para a emergência dos novos fascismos na Europa.

*Mestre em Ciências da Educação e Animador Social

 

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