José Ricardo*
Há ensinamentos adquiridos pelas leituras de Paulo Freire e pelas reflexões e aprendizagens que fomos experimentando, que vão construindo aquilo a que podemos chamar o núcleo de ideias que nos permitem compreender as relações sociais. Há muitas proposições que fomos aprendendo na pedagogia de libertação, mas destacamos apenas três. Vamos chamar-lhe “leis sociais”, pela regularidade nas observações da vida que fomos fazendo e que passamos a aceitar como verdades.
A primeira “lei social” é que a Liberdade é uma conquista e não uma doação. Não é um indivíduo ou uma classe dirigente que nos dá a liberdade. Somos educados a viver no conforto da dependência sem perceber que essa educação é que permite a manipulação das consciências. “Os oprimidos temem a liberdade, enquanto não se sentem capazes de correr o risco de assumi-la.” Pag. 47 Sem liberdade a pessoa humana é criança a vida inteira. A força deste paradigma pode compreender-se porque o ser humano nasce muito dependente de cuidados para sobreviver e para construir a sua identidade individual. A importância da vinculação segura está bem documentada. Mas o desenvolvimento da autonomia pode ser um processo inconsistente e nunca conseguido. “É um movimento de busca permanente onde estão inscritos todos os homens como seres inconclusos em busca do Ser Mais.” Pag.46.
A segunda “lei” social que fomos descobrir em Paulo Freire foi que o Ato cognoscente: é o aprender ensinando e o ensinar aprendendo. Se pensarmos que não é o professor que ensina, mas o aluno que aprende, o centro da educação é colocado no aluno e nas circunstâncias em que se desenvolve o processo pedagógico. “A educação como prática de liberdade é a investigação conjunta, educador-educando, dos temas geradores que constituem o universo temático do povo, em diálogo e reflexão.” Pg 125
A terceira lei social que destacamos é a educação bancária como prática de dominação. “Cria homens espectadores e não criadores do mundo.”Pg 89 O ascendente que o professor utiliza suportado na autoridade do conhecimento perante o aluno faz parte de um currículo oculto que se incute nos alunos de forma que este aceite como normal a existência de níveis de autoridade mais ou menos legitimada. Esse currículo oculto constitui-se também por uma cultura com um conjunto de princípios apresentados como verdades naturais, sendo apontados “fora da norma” aqueles que as contestam ou colocam em dúvida. É o que Paulo Freire chama de educação bancária “Na visão bancária da educação, o saber é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber”. Pg 83 Por isso mesmo é tão importante o currículo escolar. Se os conteúdos forem expressos numa linguagem que não seja a do quotidiano do aluno, ele terá uma enorme desvantagem em aprender e a desmotivação será em crescendo. Daí que a igualdade de oportunidades é bastante difícil de conseguir obrigando a uma adequação da linguagem dos conteúdos e à sua explicação a partir da cultura dos alunos e alunas.
FREIRE, Paulo (1972) – Pedagogia do Oprimido. Editora Afrontamento, 2ª edição, Porto
- Mestre em Ciências da Educação,Animador Social e Militante da BASE-FUT