João Lourenço*
No presente, é urgente enfrentar com humanidade a pandemia covid 19. Esta causa obriga-nos a refletir como garantir em primeiro lugar a saúde e o bem-estar de todos, principalmente os deserdados e excluídos, os desempregados, os trabalhadores por conta de outrem que vivem abaixo do limiar da pobreza.
Para o mundo do trabalho um dos maiores desafios é o das incertezas do presente e das consequências trazidas pelas várias alterações das relações laborais ao pretenderem adaptações com uma resposta que, cremos, seja numa situação de pandemia de tipo passageiro, mas que em muitas empresas já pretendem vir a mantê-las para sempre sem discutirem com os interessados, os seus trabalhadores.
É preciso defender os empregos, típicos e os atípicos de todos aqueles que trabalhando vivem dependentes do seu sustento económico para a vida social e familiar quer labutem dentro das empresas ou noutros locais de trabalho, quer sejam iniciativas ou atividades próprias de cariz individual (vulgo free-lancers).
Esta pandemia demonstra a vulgaridade em que vivemos no presente sem pensar em como torná-la mais segura e sustentável para o fator emprego mesmo a longo prazo. Vamos integrar aqueles que são aptos para trabalhar de forma digna e útil, mas porque devido às mudanças rápidas necessitam de melhorar as suas capacidades e competências e isso passa certamente pelo apoio na formação profissional ao longo de toda a vida.
O enfoque de se fazer depender apenas do mercado a possibilidade das pessoas terem emprego, e aceitar o mito que há igualdade de oportunidades está muito destorcido pela muita e clara baixa de abundância de empregos e pelas previsões de não se poder aceder ao mesmos numa sociedade altamente tecnológica e produtiva pela robótica e pelo digital que gera uma competição entre pessoas desenvolvendo ao mesmo tempo a precariedade e a pobreza laboral, acrescida de exclusão e desemprego.
Vislumbram-se já as garantias dadas pelo estado (U.E.) para apoiar o investimento nas empresas privadas. Este dinheiro a fundo perdido e outros em empréstimos suaves cujos montantes serão muito elevados. Perguntamos se a ideia será para beneficiar empresas ou para a recuperação da economia no seu geral?. No entanto ainda nada se fala do que vem aí depois!…Serão alargados os benefícios do crescimento das empresas para simultaneamente haver um acompanhamento pelos seus trabalhadores perante uma redistribuição da riqueza criada pelo seu empenho e esforço para melhoria dos seus rendimentos causa da qual dependem unicamente para melhorar a sua qualidade de vida.
Vivemos numa sociedade muito assimétrica, onde é urgente regular com justiça e fiscalização eficiente as enormes desigualdades salariais existentes, tal como estão praticados em muitos locais de trabalho onde se distribuem direitos sociais e mordomias que não são extensíveis a todos como sejam prémios, carreiras, carros e pagamentos de outros bens vindos sempre dos produtos e das riquezas criadas por todos.
É mesmo preciso uma nova economia, que não trate as pessoas como mercadoria descartável. Um imperativo da cidadania está em pensar e construir uma sociedade nova amiga das pessoas e do ambiente, envolvendo para além das tradicionais politicas e religiosas uma maior participação das muitas instituições ativas como associações, sindicatos e organizações da economia social.
- Dirigente da BASE-FUT e sindicalista.