José Ricardo*
Correndo o risco de fazer análise política sem fontes de informação fidedignas, que pode ser o mesmo que fazer deduções com premissas erradas, vamos analisar o voto “contra o Orçamento de Estado” do BE, que se traduz na decisão de impedir que o Orçamento de Estado fosse aceite para discussão, gerando um impasse e uma crise política, numa conjuntura de pandemia e de medo.
E a primeira pergunta que nos surge é esta: porque razão o BE não tomou a mesma posição da CDU e PAN, admitindo a proposta de orçamento para discussão na especialidade? Porque razão aceitou fazer parte do mesmo coro onde estava o CHEGA?
Para um cidadão anónimo é uma perplexidade, tendo em conta o bom desempenho do SNS português, como bem demonstrou o camarada Aristides Silva em artigo neste site, dando voz a milhares de cidadãos.
No momento do anúncio da intenção de voto CONTRA era razoável pensar, dando por adquirido que os camaradas do BE são pessoas idóneas e inteligentes, que esta decisão estava fundada em informações que não eram públicas e que não conhecíamos.
Durante o debate e depois da votação, com o correr do pano da encenação completa, em que o BE se levantou “Contra”, na companhia do PSD, CDS e quejandos, surgem indícios que nos leva a formular uma hipótese que só a compreende quem leu o Maquiavel e sabe como os jogos políticos se fazem.
Não temos dúvida que a decisão do BE foi manipulada e caíram como patinhos na rede que lhes foi montada e que teve várias componentes:
– Vozes na comunicação social de que o BE fala, fala, fala… mas depois aprova tudo;
– Vozes dentro do BE que acusam a direção de fazer o frete ao PS e esquecer o seu programa;
– Atitudes de dirigentes do PS menosprezando a opinião do maior partido de oposição à esquerda do Governo;
– Mentiras sobre as posições do BE dos mais altos responsáveis do PS, como no discurso da líder de bancada, mentindo que fora o BE a não querer um acordo de Governo nesta legislatura, quando todos temos memória do que se passou.
Tudo isto se passou, mas não era suficiente para fazer transbordar o copo.
A gota de água só a conhecemos depois de ouvir a TSF onde o Ministro das Finanças reconhece que as contas do BE sobre o Orçamento para a Saúde, não eram as mesmas das que estavam a ser aprovadas.
Então, a ser verdade, das duas uma: ou a Mariana Mortágua não sabe fazer contas ou então é preciso apurar quem lhe entregou os papeis com contas falsas. Como é possível um grupo parlamentar estar a defender uma posição com números diferentes dos que estavam a ser aprovados?
Provavelmente nunca se virá a saber e nunca saberemos quem montou este teatro que levou o BE a tomar o “partido da direita”.
Como nos policiais, quando se procura o assassino, pregunta-se: quem lucrou com a morte do indivíduo? E esses são os principais suspeitos. Neste caso, quem lucrou com o voto contra do BE? Sem sombra de dúvida que quem lucrou e é o principal suspeito é o PS.
Tenho dificuldade em aceitar, seja para os cidadãos e cidadãs do BE ou do PS, que a política se faça com jogos de poder para subir nas percentagens eleitorais, esquecendo que o foco deve ser a procura das melhores soluções para o desenvolvimento social do país e diminuição das desigualdades. Falando e falando e falando em Orçamento, todos se esquecem que estamos a falar de ações. Ações administrativas, de segurança ou saúde, que estão traduzidas em euros mas que alteram a vida de milhões de portugueses.
Parece-me que alguém do PS e do BE não pensa o mesmo.
29/10/2020
- Mestre em Ciências da Educação,dirigente da BASE-FUT, Animador Social.