Pela primeira vez um Papa coloca de forma clara a questão da luta contra a opressão e o perdão numa perspectiva cristã. «Não se trata de propor um perdão renunciando aos próprios direitos perante um poderoso corrupto, um criminoso ou alguém que degrada a nossa dignidade.» -diz a Encíclica «Fratelli Tutti» sobre a Fraternidade e a Amizade Social.E adianta o documento: «Somos chamados a amar a todos, sem exceção, mas amar um opressor não significa consentir que continue a ser tal; nem levá-lo a pensar que é aceitável o que faz.Pelo contrário, amá-lo corretamente é procurar, de várias maneiras, que deixe de oprimir, tirar-lhe o poder que não sabe usar e que o desfigura como ser humano. Perdoar não significa permitir que continuem a espezinhar a própria dignidade e a do outro, ou deixar que um criminoso continue a fazer mal».
E escreve ainda:«Quem sofre injustiça tem de defender vigorosamente os seus direitos e os da sua família, precisamente porque deve guardar a dignidade que lhes foi dada, uma dignidade que Deus ama. Se um delinquente cometeu um delito contra mim ou contra um ente querido, ninguém me proíbe de exigir justiça e me acautelar para que essa pessoa – ou qualquer outra – não volte a lesar-me nem cause a outros o mesmo dano. Compete-me fazê-lo, e o perdão não só não anula esta necessidade, mas reclama-a.»
A Encíclica agora assinada e divulgada em todo o mundo reafirma questões importantes de doutrina social da Igreja nomeadamente sobre o trabalho, a defesa da Terra e a propriedade e avança com reflexões inovadoras numa visão do mundo a partir dos mais pobres e excluídos, de um mundo sem fronteiras ligado pela amizade, a justiça e a fraternidade.Voltaremos em breve com algumas reflexões sobre este importante documento do papa Francisco.