Paulo Caetano*
Abriu-se uma nova janela. Uma nova oportunidade. Tudo parece novo. Mas, na verdade, queremos que tudo seja igual ao que foi. Queremos apenas a normalidade. Mas pensar assim, será um erro que vamos pagar caro, pois não conseguiremos passar adiante, pensar “fora da caixa” e mudar algumas coisas que, obrigatoriamente, têm de ser mudadas. É preciso ter a coragem para mudar, sobretudo quando o actual estilo de vida nos leva ao conformismo.
Se aceitamos este tempo novo, que leituras podemos tirar de tudo isto que estamos a viver? Em primeiro lugar, estou convicto de que situações desta natureza vão ser cada vez mais frequentes e as próximas gerações têm de estar conscientes de que vão ser marcadas por desafios deste tipo. Por isso, precisamos de novas medidas para viver em harmonia com a natureza, desde novas formas de nos relacionarmos, de nos movermos, de nos alimentarmos e/ou reciclarmos o lixo que produzimos, até uma nova forma de pensar o mundo – um mundo que se quer e deseja mais solidário.
Ousar desenvolver novos paradigmas
Não podemos voltar atrás. Estamos num tempo de mudança extraordinária, de desafiar os antigos modelos e ousar desenvolver novos paradigmas. Este vírus atirou-nos para um novo protótipo de viver em sociedade. Pelo que, temos de ter a percepção de que este tempo novo passa pela aceitação da nossa capacidade para intervir, sobretudo a favor das causas do bem comum, desafiando, em muitos cenários, o statu quo
Diz-nos o povo que “barco ancorado não faz viagem”. Por isso, temos de nos fazer ao mar! Não podemos ter medos ou receios de fazer novas coisas para mudar e prosperar. No entanto, isto só é possível com a junção de esforços do Estado com a Sociedade Civil. E a economia, pois também ela, mexe pela solidariedade social.
Na verdade, esta pandemia não teve resultados piores em Portugal, também, devido à acção concertada e assertiva das Misericórdias e IPSS. Por isso, uma palavra de apreço e gratidão ao governo e em particular, à acção da Senhora Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, que esteve sempre próxima, disponível e atenta aos problemas que estávamos (ainda estamos) a viver.
Reflitamos, por um lado, no trabalho desenvolvido pelo Sector Social e, por outro, no empobrecimento sucessivo ao longo dos últimos anos. Basta analisar o aumento dos salários, dos fornecimentos e serviços externos e as matérias-primas e comparar com os parcos aumentos dos acordos da última década.
Para onde estão direccionados os apoios financeiros?
Centrando-nos no cenário desta pandemia, questionamos: para onde está a ser dieccionada a maior fatia dos apoios financeiros? Para o chamado sector empresarial/económico, em detrimento do Estado Social. Recorde-se que no tempo da troika, foi o sector social e o poder local que aguentou a crise. Hoje deseja-se que não seja da mesma forma.
A Senhora Ministra conhece o trabalho desenvolvido nesta área. Façam-se as contas do peso dos postos de trabalho e do investimento realizado, que é das mais importantes e se traduz em dar qualidade e dignidade de vida a quem mais precisa. Atente-se que há cada vez mais fenómenos de pobreza, aumento do desemprego e sobre-endividamento, graves problemas, especialmente, nas famílias com filhos.
Desafio à Ministra do Trabalho e Segurança Social
Deixamos um desafio: Senhora Ministra, à semelhança do que está a ser feito para as empresas, é importante introduzir mecanismos financeiros no sector social, que garantam a estabilidade e sustentabilidade. Nesta área que não visa o lucro, a entrada de dinheiro, será sempre uma forma de aplicação prática a favor das pessoas e das famílias, permitindo o apoio às populações em tempo real.Deixemos de viver obcecados pelo crescimento económico. Quem lhes dirá que, não é possível que as economias do mundo inteiro, continuem a crescer indefinidamente? Apostemos nas pessoas!
É preciso apostar no empreendedorismo social, sempre com o pensamento de tornar melhor as pessoas e as comunidades, promovendo, assim o bem-estar da sociedade. Com apoio, certamente, será mais fácil este ganhar nova dimensão. Tendo como fundamento que o trabalho voluntário permite adquirir novas competências pessoais e profissionais, considero que a sua valorização é também algo que precisa de ser uma realidade, pois permitirá a concretização de diversas acções, em prol de quem mais precisa.
Por fim, sei que alguns que se sentem ameaçados por outros querem continuar a remar contra a nova maré e por pretenderem, apenas, agitar as águas. Se é verdade que a Pandemia acentuou algumas desigualdades, não menos verdade é que nos abriu horizontes para outras potencialidades que não sonhávamos ter. Nós continuamos cá, para apoiar quem mais necessita. Acreditemos e trabalhemos em conjunto!
*Paulo Caetano é dirigente da Misericórdia de Seia, Presidente do CFTL e dirigente nacional da BASE-FUT, entre outras funções.