Florival Lança*
Neste ano de 2020, celebram-se os cinquenta anos da fundação da INTERSINDICAL, designação adoptada pelos sindicatos fundadores que, em Outubro desse já longínquo ano de 1970, se reuniam para dotarem os trabalhadores portugueses de um instrumento de intervenção, ação e luta que, no plano social garantisse direitos e, no plano político, conjuntamente com as forças antifascistas, ajudasse na luta pela liberdade e derrota do fascismo, com a consequente instauração de um regime democrático.
Não era coisa pouca! Porém, no essencial e graças à luta abnegada, tantas vezes reprimida mas não abafada, tal desiderato foi plenamente alcançado, provando que, ontem como hoje, e hoje como amanhã, vale sempre a pena lutar!
Nesse tão conturbado período histórico da gestação da CGTP/IN, com o país mergulhado numa guerra colonial, com baixos salários e ausência de direitos, com uma taxa de imigração elevadíssima, com a repressão cada vez mais violenta, o nascimento da INTERSINDICAL constituiu um acontecimento marcante na história contemporânea do nosso país.
Tão importante acontecimento, nasceu e desenvolveu-se como projecto unitário alargado, onde a tolerância e o respeito por ideias e propostas de organização e ação diversas, marcou e enformou a sua construção enquanto sujeito histórico.
Claro, os grandes sujeitos da história, todos o sabem, são os trabalhadores.
Contudo, as organizações por eles (e para eles!) construídas, assumem igualmente um lugar de relevo na luta pela justiça e progresso social. E essas organizações serão tanto mais fortes, quanto os seus ideais e a sua representatividade o forem.
Foi o que sucedeu com a grande Central dos Trabalhadores Portugueses, nascida do carácter profundamente unitário e do pensamento progressista dos anti fascistas que a formaram, homens e mulheres com uma cultura de debate democrático, visando a unidade na diversidade e procurando sempre encontrar pontos comuns onde todos se reviam e pelos quais lutavam; por um país livre e democrático, pelo fim da guerra colonial, pela liberdade sindical, pelo direito à negociação colectiva, por um sistema previdencial de Segurança Social, pela redução do horário de trabalho.
Todos estes objectivos, apanágio de uma associação sindical de classe, com um cunho ideológico bem marcado, foram alcançados com a Revolução de Abril, é certo, mas sobretudo pelo elevado grau de intervenção e luta da grande Central dos trabalhadores portugueses. Não fora essa luta e muitos desses objectivos teriam ficado pelo caminho.
Por essa razão, quem quer lembrar os 50 anos de vida da CGTP/IN, não pode ignorar o 1º Primeiro de Maio, organizado pela Central e acontecimento fundamental para que um golpe militar se tivesse transformado numa Revolução Popular. Dia que, por tal razão, ficará para sempre lembrado como um dos dias mais importantes da nossa história recente.
Por último, permitam-me uma nota pessoal; Não fazendo parte da sua história, a CGTP/IN, é para mim a parte mais importante e fundamental da minha própria história.
Inteiramente dedicados ao serviço dos trabalhadores, foram os trinta e cinco anos mais importantes e marcantes da minha existência. E é precisamente aos trabalhadores filiados na CGTP/IN, à sua militância, coragem e abnegação, que agradeço o privilégio de ter vivido experiências inolvidáveis, de ter conhecido homens e mulheres extraordinários, revolucionários de corpo inteiro que, num mundo marcado por grandes retrocessos civilizacionais e por profundas desigualdades entre o capital e o trabalho, não desistem e continuam a luta abnegada pelo fim da exploração do homem pelo homem.
Os trabalhadores podem orgulhar-se da grande Central que souberam construir e agora, enquanto celebram o seu 50º aniversário, é hora de honrar essa efeméride fortalecendo-a e, em redor dela, aumentar o grau de compromisso e de luta, por forma a recuperar os direitos que o patronato e as suas organizações políticas lhe têm retirado.
Só com uma CGTP/IN mais forte e unida, os trabalhadores alcançarão uma sociedade mais justa e com progresso social.
Viva o 50º aniversário da CGTP/IN!!!
*Florival Lança foi operário da Sorefame,dirigente nacional da CGTP, da Comunidade Sindical dos Países de Lingua Portuguesa e da Confederação Europeia de Sindicatos (CES) entre outros cargos sindicais e sociais.Nos últimos tempos dedica-se também à escrita tendo publicado vários livros.