José Ricardo*
Recordamos aquele dilema ético do menino que não tinha dinheiro e roubou o medicamento da farmácia para a mãe enferma, porque o farmacêutico não o deu nem aceitou um compromisso de pagamento posterior, mesmo sabendo que isso poria em risco a vida da mãe.
Este é o dilema, como tantos outros, quando vários valores e crenças se opõem sem compromisso possível, onde a inteligência racional se incompatibiliza com a inteligência emocional e, nem sempre, somos capazes de descobrir que, afinal, bastaria entender o mundo e as relações sociais de outra maneira.
Muitas vezes, para fazer pender a balança ou para paralisar uma escolha, são inventados ou difundidos esquemas de propaganda que inibem uma avaliação esclarecida.
São os casos de Rui Pinto e Julian Assange.
Sabendo que o dilema entre direito de privacidade e o direito de informação da corrupção seria de fácil opção pelos cidadãos, são colocados no espaço público acusações que aumentam a tensão nas opções. No caso do Julian Assange foi a acusação de assédio sexual e no caso de Rui Pinto, foi a acusação de chantagem e tentativa de obter vantagem económica.
E, aqui chegados, o dilema aumenta e paralisa os movimentos de massas em seu favor.
Pois bem. O que nós precisamos é de muitos ciberativistas que desvendem as artimanhas do capitalismo, que por natureza é fraudulento e ávido da maximização do lucro. Este é o caminho futuro que vai acontecer, impulsionado pelo conhecimento acumulado e continuo das camadas jovens. Sendo muitos, não será fácil encontrar acusações para todos e, mais tarde ou mais cedo, as suas descobertas vão alterar e transformar o capitalismo existente que se funda no secretismo das suas maquinações.
Foi graças a estas descobertas que os poderes públicos dos Estados democráticos foram impelidos a encontrar leis que condicionam a liberdade de exploração das companhias privadas.
A par da utilização da globalização e redes cibernéticas para domesticar os povos e manter as estruturas existentes, serão estes e os novos ciberativistas que irão informar e trazer ao espaço público todas as atrocidades e violações do direito de justiça e que contribuirão para impelir os povos a encontrar formas de organização mais justas e uma sociedade mais fraterna e igualitária.
* Mestre em Ciências da Educação;Dirigente da BASE-FUT;Animador Social.