Aristides Silva*
Este tempo de confinamento tem sido propício a algumas reflexões, entre as quais sobre o nosso modo de viver e ver as coisas antes dele, o de agora e o depois.
Parece claro que esta nova doença nos veio mostrar algumas verdades que muitos, teimosamente ou não, fingiam não acreditar:
a) que, afinal, somos mesmo todos iguais, não só no nascer e no morrer mas, também, até no viver, embora aparentemente tal não possa parecer;
b) que, afinal, não há umas profissões mais importantes que outras, embora alguns nos queiram convencer do contrário: os médicos e os enfermeiros tratam da nossa saúde mas as costureiras confecionam as máscaras que nos protegem, os padeiros fabricam o pão que comemos mas os lavradores cultivam muitos dos nossos alimentos, os motoristas transportam-nos mas os cantoneiros recolhem o lixo que fazemos, etc., etc.
c) que, afinal, o Estado no seu todo (e não só o SNS) faz mesmo muita falta, mais que provado pelo facto de muitos, mesmo aqueles que diziam ser contra isso, serem agora os primeiros a reclamarem tudo e mais alguma coisa do Estado, não só subsídios e isenções como também dinheiro a fundo perdido!
d) que, afinal, a Terra vive muito bem sem nós, humanos, há muitos milhões de anos, que ela não precisa de nós, nós é que precisamos dela! Então porque é que a estragamos?
Muitos dizem que, depois de tudo “isto” acabar, tão cedo não vamos poder viver na normalidade de há pouco tempo atrás, que vamos passar a ter de viver num novo normal.
Será desejável não voltar à “normalidade” que nos trouxe até aqui: gritantes desigualdades, profissões desprezadas porque consideradas insignificantes, Estado mínimo para recolher mas máximo para conceder, recursos terrestres explorados até à exaustão, em prol de muito poucos, sem respeito pelo equilíbrio da mãe natureza!
Por tudo isto, será desejável que não voltemos a viver na “normalidade” anterior! Será desejável que vivamos, de facto, num novo normal!
Mas qual novo normal?!
*Ex- Dirigente da BASE-FUT e Animador Social.