O Centro de Cultura Operária (CCO) foi uma das organizações que esteve na origem da BASE-FUT. Publicamos uma pequena parte de um texto de Fernando Abreu intitulado« Nascmento do Centro de Cultura Operária» , inserido no livro «A Igreja no Mundo Operário-contributos para a História da Liga Operária Católica e da Liga Operária Católica Feminina 1936-1974» e que nos mostra a evolução ideológica e política do CCO na década de sessenta do século XX e a questão dos Sindicatos Cristãos.
«…. b) Novos desafios
Durante o ano de 1967 é publicado o primeiro número dos Cadernos de Cultura Operária.Anunciada com uma periodicidade trimestral, esta publicação propunha-se contribuir para a elevação da cultura e promoção operária e, pela sua venda,obter a participação dos trabalhadores no esforço de educação operária desenvolvido pelo CCO.
No primeiro número dos Cadernos pode ler-se:«Os cadernos de Cultura Operária não têm outro fim que seja o de colocar nas mãos de operários conscientes e responsáveis mais um instrumento que os ajude a vencer a sua inferioridade social e cultural.
O conteúdo do primeiro caderno, à maneira dos próprios cursos, era profundamente académico e não só não reflectia a realidade de vida dos trabalhadores, como não contribuía para inspirar e animar acções transformadoras.As fichas constitutivas do 1º caderno, com excepção da Legislação do Trabalho, eram resumos dos cursos de economia, de sociologia e sindicalismo..
Tal como a formação transmitida pelos cursos também os cadernos se pautavam pela transmissão e exposição de conteúdos e conhecimentos teóricos, metodologia que já estava ultrapassada pelos avanços e aprofundamentos dos Movimentos Operários da Ação Católica, nomeadamente da própria LOC (Liga Operária Católica) que, entretanto, se iniciara na Revisão de Vida Operária e no Compromisso Temporal.
Para os dirigentes e animadores da linha «contestatária»-chamemos-lhe assim- a inferioridade social e cultural dos trabalhadores portugueses exigia outro tipo de formação.Segundo os opositores à linha «oficial» a formação de trabalhadores, para ser libertadora e transformadora, tem de partir da própria vida, dos seus problemas quotidianos, das suas dificuldades e anseios, dos seus valores, fraquezas e limitações.
Ainda nesse ano numa reunião de formação de sindicalistas clandestinos organizada pela Federação Internacional dos Sindicatos Cristãos com o apoio da Comissão de Liberdade Sindical da OIT,realizada em Friburgo, Suissa,e na qual participaram activistas sindicais de Espanha(Madrid, Catalunha e País Basco) e animadores do CCO de Portugal foi discutida a criação de sindicatos clandestinos em Portugal (em Espanha já existiam no País Basco e em Madrid e mesmo embrionáriamente também na Catalunha)
Nessa reunião o então Permanente e Secretário geral do CCO defendeu a constituição de Sindicatos Cristãos em Portugal afirmando que o CCO estava a desenvolver a sua ação nesse sentido, afirmação que, pelo tom categórico e definitivo em que foi pronunciada, motivou pronta reação do dirigente da Equipa Nacional do CCO e Vice-Presidente Nacional da LOC que não só contraditou a afirmação como esclareceu que sobre a questão não podia haver qualquer envolvimento do CCO, já que esta nunca fora sequer discutida, acrescentando que a tendência largamente maioritária a nível dos Movimentos Operários na Ação Católica era a da recusa á constituição de Sindicatos e Partidos confessionais.
Este desagradável confronto, no seu rescaldo, viria a contribuir para agravar as tensões entre as duas linhas em presença tanto mais que após o regresso a Portugal o Secretário Geral do CCO realiza vários contactos a nível das regiões no sentido de procurar apoios…
A imprudencia com que chega a abordar a questão junto de militantes da LOC e animadores do CCO é causa de preocupações formando-se em 1967 um Movimento tendente ao seu afastamento do cargo de responsabilidade e influência que detinha na Direção e orientação do Centro à qual o próprio Director,mesmo senão de forma explícita, dava cobertura.
Em 15 e 16 de junho de 1967 realiza-se o 1º Conselho Geral do CCO tendo como «pano de fundo» as questões e tensões atrás focadas.Registe-se que, entretanto, entrara para a Direção do Centro a Maria Elisa Salreta, dirigente da LOCF (liga Operária Católica Feminina) e ex-Presidente da JOCF e para Assistente o Padre Jardim Gonçalves que deram importante contributo à «linha» dos animadores e Doirigentes que defendiam a urgente necessidade de reorientar a ação do centro…..»
Fernando Abreu foi ex-Presidente e fundador da BASE-FUT.