Um homem determinado, amigo, apaixonado

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No passado dia 6 de dezembro faleceu ,sem notícia nos «media»,o José Miranda Magalhães,um amigo que foi padre católico e engenheiro agrónomo e teve uma notável influência na Igreja Católica da Diocese de Lisboa, em particular na Igreja de base,nas centenas de militantes da Ação Católica Rural.nas organizações de agricultores ,com destaque para o CERCOOP.Centro de Cultura e Estudos Rurais, uma cooperativa que aglutinou agricultores e técnicos e desenvolveu uma actividade pioneira,na década de oitenta, ao promover uma reflexão crítica da integração da agricultura portuguesa na Comunidade Económica Europeia.Pedimos ao Avelino Pinto um testemunho, que, sendo da mesma geração, o acompanhou ao longo da vida, por vezes em trabalhos comuns e como amigo.O «Zé Magalhães» não será esquecido.

 

«O José Magalhães surge à nossa frente como um homem que persegue um sonho – somos pessoas livres, iguais, com direitos, a meio caminho de sermos irmãos – como homem apaixonado pelas pessoas, especialmente pelos mais pobres  e desfavorecidos.

Andou sempre em modo de procura insatisfeita, numa busca continua a do caminho da justa luta contra as desigualdades, que, sabemos e ele sabia, nunca terminará. Nisso, foi determinado, sem cedências, controverso mesmo, sem medo do conflito, do lado dos mais fracos, lançando a todos o desafio de ir mais além.

Assim começou ele, um jovem do Norte que desce até Lisboa, como dirigente da JUC, em Agronomia, na qual desenvolveu a tese de licenciatura sobre “Ranchos Migratórios”.

Mais tarde, de 1963 a 1972, como Padre assistente das organisações rurais da Acção Católica (ACR e JARC do Patriarcado), parte para o meio rural – Oeste, Ribatejo, zona de Palmela – que percorre durante 9 anos a fio, tecendo uma teia tecida com as malhas da amizade empenhada, sempre a abrir caminho com grupos de base, militantes e dirigentes que o esperam de braços abertos, para dar passos em frente.Essa presença e a sua vivência cristã, fez avançar o movimento rural (cristão e não só).

Depois, o Zé Magalhães no Brasil, convive com D. Helder Câmara, bispo de Olinda, e com os militantes do Movimento dos Sem Terra, contacta com a teologia da libertação que aprofunda no dia a dia, acreditando que a Igreja é – pode ser – um espaço de libertação e de criação do tempo novo – para o povo dos trabalhadores, no jeito e modo de falar, hoje, do Papa Francisco  – um trabalho, um tecto, uma terra.

De volta a Portugal, atento ao drama do desemprego em Portugal, trabalha no Instituto Nacional de Emprego, mormente no projeto das ILEs  (Iniciativas Locais de Emprego).

Assim ele era, amigo empenhado, destemido, presente quando a PIDE bateu à porta, quando acompanhou aqueles que foram parar a Caxias, com uma largueza de vistas vinda do interior profundo de crente nascido em Vila do Conde, balizado apenas por não aceitar factos consumado e acontecimentos que limitavam a liberdade das pessoas.

Foi um homem fiel a si próprio e aos seus ideais, a querer libertar-se continuamente

Avelino Pinto

 

 

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