Uma greve dos serviços públicos é sempre uma greve impopular!As greves dos professores são particularmente impopulares porque afectam não apenas as crianças e os jovens mas também os pais que ficam apreensivos porque não sabem o que fazer com os filhos enquanto trabalham.
Todavia, reconhecer esta realidade não significa concordar com as críticas de portugueses que, não conhecem, nem procuram conhecer devidamente as reivindicações dos professores,criticam os mesmos de elitistas e privilegiados , aconselhando-os a abdicarem do reconhecimento de todo o tempo de serviço para efeitos da carreira sem se lembrarem que estes profissionais sofreram pesados cortes salariais como ,aliás, uma grande parte dos funcionários públicos! Muitos dos professores conheceram e ainda conhecem a precariedade ou tiveram que trabalhar a centenas e milhares de quilómetros de sua casa!Muitos estão de baixa há meses e anos com pesadas depressões e esgotamentos porque não aguentaram tanta mudança, tanta instabilidade , tanta agressão mediática!Por acaso os portugueses críticos das greves sabem desta realidade?Preocupam-se com a saúde e bem estar destes trabalhadores?
Em boa verdade o Estado não apenas deveria reconhecer todo o tempo de trabalho congelado mas inclusive deveria reembolsar os cortes salariais a todos os trabalhadores públicos.Em rigor no tempo da crise o Estado deveria ter feito cortes salariais transformando-os em empréstimos (títulos de tesouro) como ocorreu na primeira intervenção do FMI na década de oitenta do século passado sendo Primeiro Ministro Mário Soares. De facto, o salário é a propriedade de quem não tem propriedade.Certamente que se o Estado tirasse a propriedade a milhares de portugueses como tiraram parte do salário a outros milhares teríamos uma guerra civil!
Uma parte dos portugueses continua a ter uma cultura conservadora, benévola para com os grandes e crítica de quem contesta e reivindica.Prefere a «caridade», a esmola ao pobre, a vitimização.Uma mentalidade de pequenos patrões e proprietários.
Dito isto não se pode deixar de considerar que os sindicatos de professores também devem fazer melhor esclarecimento da população e fazer um maior esforço para terem os pais com eles.É, aliás, de louvar a posição de compreensão tanto da associação nacional de pais como de directores de agrupamentos de escolas.
Por fim cabe ao governo, que fez pontes políticas inéditas em Portugal, a missão de reatar as negociações com os professores e as suas associações de classe.Para o bem desta própria solução política, para o bem dos professores, mas, acima de tudo para o bem da escola pública portuguesa.
Brandão Guedes