José Manuel Duarte*

Estávamos no Outono de 2015 quando começámos a debater a ideia de impulsionar a criação de uma universidade sénior, especialmente voltada para pessoas com poucas habilitações literárias, a partir da associação da qual eu era um dos primeiros associados, na Covilhã.

O amigo e antigo companheiro da Base- Frente Unitária de Trabalhadores, Jorge Santos – natural da Covilhã (onde começou ainda adolescente a trabalhar como operário dos lanifícios) mas a viver há muitos anos no concelho de Sesimbra – falava-me da experiência da Universidade Sénior da Quinta do Conde que já ia no segundo ano de actividade e com quase uma centena de alunos participantes, apesar das múltiplas dificuldades encontradas…

Após algum amadurecimento da ideia, apresentei a proposta ao então presidente da direcção da LAPA – Liga dos Amigos do Bairro dos Penedos Altos que encontrou bom acolhimento e permitiria vir a lançar o projecto de uma (modesta) universidade sénior. A experiência do amigo Jorge Santos na criação da universidade da Quinta do Conde e a sua formação de nível superior que tinha concluído, permitiu uma candidatura aceite pelo Centro de Emprego da Covilhã, por um período de seis meses.

Começámos então, no final de 2015, a trabalhar na preparação do projecto  contactando potenciais alunos e professores e as aulas do “Clube Sénior – Saber para Todos” (como então decidimos designar o projecto), começaram em Janeiro 2016. História Local e Regional, Cidadania-Direitos e Deveres do Cidadão, Saúde na Idade Sénior, Astronomia e Astrologia, foram as principais áreas ou disciplinas dos primeiros tempos. Mais tarde passámos a incluir Informática, Inglês, visitas guiadas e, mais recentemente, língua francesa. A LAPA tem contado com generosos e competentes professores (voluntários e amigos) entre os quais um professor de história, um advogado, uma enfermeira, um engenheiro desempregado e algumas pessoas jovens licenciadas.

Foi importante o contributo da BASE-FUT e da LOC/MTC

Naturalmente, um processo a exigir muito acompanhamento e persistência, mais ainda pela ousadia de se destinar essencialmente a pessoas reformadas com menos habilitações literárias. Neste contexto foi determinante, para a viabilidade do “Clube Sénior”, a participação persistente de alguns associados militantes do movimento Liga Operária Católica e da organização Base-Frente Unitária de Trabalhadores.

Um projecto inovador numa associação que, apesar do seu estatuto reconhecido de IPSS (sem valências contratualizadas com a Segurança Social), não conta com garantia de apoios financeiros públicos. As suas receitas provêm principalmente das quotas dos seus actuais 1500 associados, das suas actividades quase diárias e dos eventos realizados em diferentes ocasiões do ano.

Não estava no meu horizonte, nem no meu desejo, por causa de outros compromissos que vêm de longe, com responsabilidades na organização Base-FUT e no movimento LOC/ MTC e também de ordem familiar, não queria assumir cargos de responsabilidade directiva na Liga dos Amigos dos Penedos Altos, menos ainda a presidência da direcção. De resto todos desejávamos que a direcção anterior continuasse o bom trabalho dos últimos cinco anos.

Porém, a circunstância de não aparecerem listas concorrentes aos órgãos dirigentes e as consequências desse facto para a LAPA e, por outro lado, a compreensão das razões dos membros mais responsáveis da direcção cessante para serem aliviados e substituídos, levou-me a acabar por ceder aos apelos que há muito vinham sendo feitos… E assumi então o encargo de constituir a única lista concorrente à eleição dos órgãos em Março de 2017, com um mandato de quatro anos, por força dos Estatutos. Felizmente com alguns bons companheiros na direcção e nos restantes órgãos…

Ser dirigente associativo, numa associação como a LAPA e com uma responsabilidade maior, é um compromisso a exigir muito tempo e dedicação, gratuitamente… Por outro lado é uma oportunidade de contribuir para o bem dos associados e da comunidade em que se insere. E pode dizer-se que uma associação é, deve ser, ao mesmo tempo, uma escola de cidadania e uma experiência de participação cívica em causas do bem comum.

Terminaria afirmando que, sendo verdade que ”O caminho se faz caminhando” , faz falta apostar na formação de dirigentes associativos.

* Presidente da direcção da LAPA ,militante da Base-Frente Unitária de Trabalhadores e

militante da LOC/ Movimento de Trabalhadores Cristãos