Em 2009 o Padre Constantino Alves escreveu um artigo para o «Le Monde Diplomatique» sobre o Bairro da Bela Vista, Setúbal, onde dizia: «Entrei em casas verdadeiros tugúrios, onde a pobreza extrema era patente. Casas com os colchões no chão, já velhos e rotos, salas sem uma mesa nem cadeiras, janelas sempre fechadas por que estavam podres, doentes acamados há vários anos dormindo em enxergas, sem frigorífico nem fogão (a comida era feita sobre um grelhador de peixe). E apesar disso tudo, nem as Assistentes sociais, que já conheciam o caso, faziam mais do que atribuírem o subsídio de reinserção social. Foi preciso mobilizar os nossos recursos para oferecer mesa, cadeiras, frigorífico, televisão, fogão, cobertores e lençóis aquelas duas mulheres desgraçadas, uma com uma paralisia infantil e a mãe com uma forte anemia.
Vi quatro famílias a viverem numa única casa, vinte e duas pessoas ao todo, num ambiente escuro e doentio
Vi casas negras pela humidade, janelas podres e sem vidros tapadas a papelão há vários anos.
Vi o abandono duma família a quem a casa ardeu com tudo o que lá havia dentro e que esperou sete meses para que a Câmara viesse colocar janelas e portas apesar de promessas sucessivas de que na próxima semana lá iam…
Vi casas onde a água escorria do tecto descendo pelos fios das lâmpadas. Vi casas sem água há vários meses.
Vi casas com as janelas e portas fechadas com tijolo para ninguém as ocupar e a população sem saber porquê.
Vi postes derrubados com os fios eléctricos pelo chão semanas e semanas.
Vi montureiras e lixo de vários anos nos vãos das escada, e os serviços de limpeza a passarem ao lado,
Ouvi o queixume dos pobres já desesperados de quem tanto espera
Ouvi a raiva incontida de famílias que acusam as autoridades de não lhes prestarem atenção……»Ver