Estudos sobre condições de trabalho e os trabalhadores invisíveis

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Por Brandão Guedes*

Nos últimos tempos verificamos felizmente um aumento da investigação sobre as condições de trabalho em alguns sectores profissionais com destaque para os professores, médicos e enfermeiros. É uma boa notícia!Todavia, nos sectores onde estes trabalhadores exercem a sua profissão existem também outras classes profissionais que nunca são estudadas e até são ignoradas, não apenas pelos estudiosos, mas também pela comunicação social e naturalmente pelos governantes.Por exemplo, quando se estuda o desgaste profisisonal na educação o problema é apenas dos Professores?E os/as Assistentes Operacionais?

O ano passado ocorreu um episódio exemplar numa escola da Margem Sul que foi visitada por um governante.Quanto este discursou perante a população escolar agradeceu e analteceu o trabalho dos professores, alunos, pais e encarregados de educação e esqueceu-se dos chamados trabalhadores não docentes, «as contínuas», antigas auxiliares de educação» e, actualmente, incluídas no exército geral da Função Pública com o nome de asssitentes operacionais.Os alunos deram-se conta da «gafe» do governante e começaram a gritar e a dizer  « e elas ,as contínuas?»O político veio de seguida dar uma satisfação às trabalhadoras silenciosamente revoltadas, mas sem pedir formalmente desculpa!

Este episódio vem a propósito da existência de trabalhadores que são quase invisíveis na nossa sociedade.São incluídos em grandes sindicatos, as suas lutas são frequentemente ignoradas e as suas profissões por vezes desprezadas!São as mulheres da limpeza e empregadas domésticas, auxiliares da saúde, e da educação,cantoneiros/recolha do lixo e jardineiros, operadores de call centers, caixas de supermercados, coveiros, enfim, uma lista infindável!

O Movimento sindical tem que fazer mais pelos trabalhadores invisíveis socialmente

A situação dos operadores dos call centers e dos serviços partilhados SSC’s (shared services centers ) é de novos escravos, sem estatuto , sem carreira, na precariedade abosoluta e pouco sindicalizados.São serviços entregues a empresas de trabalho temporário em geral de grandes multinacionais.Estes e outros sectores da chamada nova economia, que de novo não tem nada, exigem estudos e visibilidade para que o poder político intervenha nomedamente com regulação e com inspeção rigorosa.O Movimento Sindical no seu todo tem que fazer mais por estes trabalhadores!

Claro que se entende a relevancia social e económica de umas profissões e de outras.É óbvio que um estudo sobre os médicos terá muito mais leitores e eco mediático do que um estudo sobre as empregadas domésticas ou os cantoneiros das autarquias.Todavia, os centros de investigação universitária, em particular os públicos, não podem esquecer que todas as profissões têm um peso económico e social e que as boas condições de trabalho e de qualidade de vida é um direito fundamental de todos os trabalhadores.É verdade que médicos esgotados são uma ameaça e um risco para eles, sua família e doentes e um encargo para o sistema de saúde e de segurança social que muitas vezes a sociedade não contabiliza.Mas também não é menos verdade que outros profissionais estão em situações semelhantes.

Os estudos gerais e específicos sobre as condições de trabalho não deveriam ser uma actividade assessória na investigação mas antes uma questão central da investigação em ciências sociais.O não empenhamento do Estado e das universidades públicas nesta questão mostra bem a óptica de classe subjacente a estas matérias.Para alguns o trabalho é uma questão meramente económica.A impressão que temos é que se não existissem uns quantos investigadores que, com parcos meios, se dedicam a estas matérias, quase por carolisse, ainda teríamos menos conhecimento sobre a realidade das condições de trabalho em Portugal!A estes investigadores o nosso aplauso!

  • Dirigente da BASE-FUT e ex-funcionário da ACT
  • Email: brandãoguedes12@gmail.com

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