Pressão na escola é avassaladora

-«Estou com baixa psiquiatra pois a pressão da escola estava a ser avassaladora e não me encontrava em condições psicológicas para leccionar uma heterogénea turma de 2º ano, onde os alunos com necessidades educativas deixaram de usufruir dos apoios do ensino especial»-diz Maria Laura Neves Correia professora desde 1978 a dado momento do seu testemunho. Um depoimento indiciador de que embora os problemas na escola  não se reduzam ao congelamento da carreira esta questão deixou marcas nos professores.

«Sou professora de 1º ciclo, desde 1978 em regime de monodocência, ou seja sem redução da componente lectiva, como acontece nos outros graus de ensino, comparativamente a um professor de 2 ciclo com o meu tempo de serviço e a minha idade 62 anos, os colegas tem um horário lectivo de 14 horas e nós, em monodocência, de 25h o que na prática são 27h, pois o apoio ao estudo é contabilizado fora do horário lectivo.

No entanto os professores em monodocência, com mais de 60 anos, podem pedir ao director do agrupamento a dispensa de 5h lectivas. No entanto, nessas 5h são, conforme os agrupamentos, distribuídos trabalhos como, trabalho de biblioteca, apoio a alunosetc.. No meu caso foi-me distribuído trabalho na biblioteca com a obrigatoriedade de fazer relatórios trimestrais do trabalho desenvolvido na mesma, além de todo o trabalho inerente à profissão.

Pressão da escola estava a ser avassaladora

No que concerne à “vida sindical” fiz parte de dois mandatos como dirigente sindical,  representando o 1 ciclo. No entanto devido a problemas familiares foi-me impossível aceitar, embora participasse sempre que pude activamente em reuniões sindicais dando a conhecer a realidade no terreno. Neste momento entreguei, numa acção do sindicato, o pedido para que sejam definidas as regras da pré reforma, aguardo resposta. Estou com baixa psiquiatra pois a pressão da escola estava a ser avassaladora e não me encontrava em condições psicológicas para leccionar uma heterogénea turma de 2º ano, onde os alunos com necessidades educativas deixaram de usufruir dos apoios do ensino especial.O professor titular de turma  viu acrescido no seu horário mais reuniões multidisciplinares que tinham como fim “ensinar” o professor a trabalhar com esse aluno. Mais uma forma que o governo arranjou para poupar não pagando aos professores de ensino especial que tanto necessários são nas escolas. Temo que haja propostas para mexer no estatuto da carreira docente no sentido de afunilar a carreira e desta forma poucos conseguirem atingir o topo.

Trabalho burocrático é cada vez maior!

A decadência da sociedade passa pela falta de respeito por aqueles que com amor e sacrifício vão construindo/instruindo a sociedade,ou seja, os professores que os políticos teimam em maltratar, não querendo negociar o tempo perdido, fixaram- se nos dois anos e daí não passaram, sendo que nos arquipélagos dos Acores e da Madeira conseguiram chegar a bom porto. Haverá professores que nunca chegarão ao topo da carreira, índice 370, cujo vencimento liquido ronda os 1800 euros. Há neste momento muitos professores com 23 anos de serviço que auferem líquido 1100 euros, com cargos de coordenação de escola juntamente com apoios a turmas onde faltam professores, mais reuniões com a direcção da escola, reuniões com encarregados de educação. O desânimo nas escolas é avassalador, o trabalho burocrático cada vez é maior, e sem perspectivas de evolução na carreira.

Nota- se por parte do governo um não querer resolver a situação, as soluções foram propostas pelos vários sindicatos e passavam por rejuvenescer a profissão, convertendo algum desse tempo para a reforma. Agravando a tudo isto temos o envelhecimento do corpo docente.  O governo diz já ter fechado os dossiês em relação aos professores. Todos sentimos com mágoa que tudo terminou da pior forma e o desânimo é total.»

Maria Laura Neves de Almeida Correia

 

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