18 de Janeiro de 1934-a greve que queria barrar o passo à ditadura

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Amanhã ,18 de janeiro,faz 88 anos que os sindicatos portugueses proclamaram uma greve geral para derrotar a política de salazar de  fascização dos mesmos e da sociedade portuguesa.A ação não correu bem e salazar aproveitou a oportunidade para dar um golpe mortal no sindicalismo livre e fortalecer o seu projecto conservador e ditatorial. O sindicalista Américo Nunes no seu livro «Hotelaria-de criados domésticos  a trabalhadores assalariados» escreve sobre este acto corajoso do movimento sindical daquele tempo baseado nos dados históricos que, entretanto, já temos:

«A greve geral de 18 de janeiro  tem sido objecto de aprecições diversas, na sua maioria, mesmo as oriundas de sectores políticos ligados aos trabalhadores, apontando apenas os erros e as insuficiências na sua condução concluindo em regra pelo seu fracasso.Onde há heroicidade e resistência com consequências, grande parte dos que se têm debruçado sobre o«18 de janeiro», só têm visto, fraqueza,erros, disparates.

Não é difícil de perceber que ,com todo o dispositivo repressivo montado pelo governo,, não foi apenas por erros de direção e organização que a greve não teve maior êxito.

Se é certo que houve erros graves no processo de organização e de condução da luta, também é verdade que é muito mais fácil apontar esses erros a posteriori do que preveni-los antecipadamente.

Quanto ao insucesso do «18 de janeiro» é verdade que o fascismo não foi derrotado e dificlmente o poderia ter sido naquela correlação de forças e naquele contexto nacional e mundial, por maior que tivesse sido a adesão á greve.Tivesse o ditador sido derrubado e a história seria outra.

Uma coisa é certa, o «18 de janeiro» foi uma resposta corajosa e heróica dos trabalhadores portugueses à fascização, de luta pela liberdade e de defesa dos seus sindicatos.

Aqueles que conhecem por dentro estes processos de luta sabem bem que aquilo que não se vê na rua e  que não é noticiado nos jornais fica desconhecido e em regra não conta para a história escrita.Mas o que se passa dentro das fábricas e nos campos é muito mais do que é noticiado e daquilo que teve expressão visível na rua.

A adesão à greve foi maior do que o governo quis fazer crer

Naquele dia a adesão dos trabalhadores à luta foi de certo maior do que o governo de então quis fazer crer e do que aquilo que tem sido historiado, reduzindo-se muitas vezes a história à ação mais espectacular da Marinha Grande.

No entanto ,para além da Marinha Grande, a greve foi geral noutros pontos importantes do país e elementos hoje conhecidos mostram que teve adesão dispersa em muitas localidades, incluindo em alguns pontos do Norte.

Em Almada, além dos importantes estaleiros navais da Parry & Son e da Mutela,todas as fábricas de cortiça,a Shell,os operários das obras do Alfeite, os motoristas de camionagem e dos táxis, as fábricas de moagem, os carregadores e estivadores, as fábricas de conservas, os operários de construção civil e dos metalúrgicos, o próprio comércio e serviços aderem á greve….

Em Sines a adesão foi maciça.O mesmo acontece em Silves ,onde além de 800 operários corticeiros que entram em greve as outras actividades também param.Greve que se prolonga por 21 dias, quer por opção dos grevistas quer por força das medidas de repressão do governo que proibira as empresas de deixatrem regressar ao trabalho os grevistas.

No Barreiro,embora na CUF a adesão pareça não ter tido muito significado tendo participado na greve pouco mais que os dirigentes e activistas sindicais deste complexo industrial, há várias paralisações parciais noutras fábricas e também aqui os corticeiros entram todos na luta…..

Relativamenta a Lisboa, o insuspeito e bem informado salazarista Franco Nogueira relata assim as coisas:«pelas ruas de Lisboa, espalham-se bandos armados:assaltam quartéis e esquadras da polícia, disparam tiros, lançam bombas.Há sabotagens na fábrica de material de guerra de Braço de Prata e na linha do norte, junto a Santa Iria: e mais notícias dão conta de perturbações em Santa Apolónia, Xabregas e noutros bairros exteriores.»

Em Coimbra os grevistas ocupam a central eléctrica colocam a cidade às escuras e paralisam todas as actividades.Em Braga e noutras localidades nortenhas há descarrilamentos de combóios.

A Marinha Grande esteve nas mãos dos operários

Na Marinha Grande, sob a direção do sindicato dos vidreiros,onde predominam os comunistas, a greve é geral e são ocupados o posto da GNR, os CTT e a Câmara Municipal, onde é hasteada a bandeira vermelha, a que se segue a eleição de um soviete.

Um grupo de operários vidreiros chefiados por Manuel Baridó, retoma e reabre a sede do seu sindicato que se encontrava selada pelas autoridades.A Vila esteve nas mãos dos operários durante várias horas, até que unidades militares vindas de Leiria a retomaram e voltaram a colocar sob controlo do governo…

A repressão que se abateu sobre os grevistas foi enorme.A Marinha Grande ficou ocupada pelos militares durante vários dias.Foram feitas milhares de prisões em todo o país.Para não serem presos muitos sindicalistas passaram à clandestinidade ou refugiaram-se em Espanha, onde a República, que tanta esperança tinha trazido aos revolucionários portugueses fora implantada há três anos…»

 

Acontecimentos significativos anteriores à greve geral:

Março de 1933: A Constituição do Estado Novo é aprovada por plebiscito
Abril de 1933: Revolta da Madeira;entra em vigor a Constiuição corporativa
Julho de 1933: Salazar é nomeadao Presidente do Conselho
Setembro de 1933: Criação do Conselho nacional das corporações e apresentação do Estatuto do trabalho Nacional(Dec.Lei nº23.048);
Decreto lei nº23050 sobre os sindicatos nacionais
Outubro de 1933:Princípio de revolta contra a ditadura em Bragança, imediatamente sufocda pelas forças fiéis ao regime.
Novembro de 1993: O Governo deporta para Angra do Heroísmo 150 pessoas.Entre elas encontra-se o aviador Sarmento Beires.

Acontecimentos significativos posteriores à greve geral:

Abril de 1934: Manifestações e greves de fome dos presos políticos da Trafaria contra os espancamentos policiais.
Congresso da União Nacional
Maio de 1934: Decreto -Lei nº23.870 sobre os delitos da greve e lock-out
Julho de 1934: Os presos do 18 de Janeiro são deportados para a Ilha Terceira.

Os participantes na greve geral mais activos foram para as prisões do salazarismo

“Muitos dos participantes no 18 de Janeiro são assim atirados para os temíveis presídios do Salazarismo, como os Fortes de Caxias, Peniche e S. João Baptista, em Angra do Heroísmo, e para sinistros campos de concentração, autênticos campos da morte bem longe da Metrópole – Forte Roçadas e Vila Nova de Seles em Angola, Fortaleza de S. Sebastião na Ilha de Moçambique, Oecussi em Timor, Tarrafal em Cabo – Verde. Em 23 de Abril de 1936, pelo Decreto-lei n.º 26 539, é criada uma Colónia Penal, ou melhor dizendo, um campo de concentração, no lugar do Tarrafal, na Ilha de Santiago, Arquipélago de Cabo – Verde, cujo objectivo era a punição de forma implacável dos presos que se opunham a Salazar.
No dia 29 de Outubro do mesmo ano, chegam ao “Campo da Morte Lenta” os primeiros 152 presos, levados dos presídios de Peniche, Aljube, Caxias, Penitenciária de Lisboa e de Angra do Heroísmo. Entre os prisioneiros encontravam-se Mário Castelhano e Bento Gonçalves, dirigentes máximos da CGT e do PCP, respectivamente, que acabaram por perecer no Tarrafal, vítimas dos maus tratos e da doença.”João Vasconcelos, historiador

 

 

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